A Amiga Genial é o primeiro romance de uma tetralogia aclamada mundialmente e que, infelizmente, cheguei tarde à leitura.
A misteriosa escritora que assina seus
livros como Elena Ferrante apresenta um universo requintado de sentimentos, e
nos mostra como ninguém, a amizade de duas meninas, abordando a feminilidade e
o feminismo não panfletário, em uma Itália devastada pela segunda guerra e por
suas posições durante o conflito.
Ferrante nos apresenta uma miríade de
personagens, moradores de um bairro pobre de Nápoles, no qual não poderiam
faltar elementos pertencentes à Camorra, um sindicato do crime italiano somente
comparável em suas ações ao que ocorre nas favelas brasileiras, ao trafico.
Em um país com história machista, o foco da
trama está em duas meninas e seu desenvolvimento, em suas analises que vão se
apurando conforme crescem. Elas observam e vivenciam uma violência que os pais
e irmãos exercem sobre suas filhas e esposas, a violência contra as crianças, o
medo de determinados moradores do bairro, e a falta de perspectiva dos jovens,
especialmente as meninas.
Elena (Lenu) é a menina que teve a sorte de
ter um pai mais aberto, que percebeu, mesmo que sob a pressão da antiga
professora do bairro, a importância da educação e deu a oportunidade dela
continuar os estudos. A princípio, mesmo com toda a falta de confiança em si
mesma, Lenu acaba se tornando uma estudante brilhante.
Lila, a filha do sapateiro, que
inicialmente nos dá uma sensação de ser brilhante, acaba sendo absorvida pela
imobilidade do bairro onde vive. O pai não permite que ela estude, e aos
poucos, a menina genial vai se tornando alguém comum, uma futura mulher
conformada com a vida que todos levam naquele bairro de Nápoles.
A relação dual entre Lenu e Lila é que nos
leva a leitura, que nos absorve até o último fio de cabelo. Não é uma amizade
de contos de fadas. Elas se amam muito e ao mesmo tempo se invejam. Lenu quer
ser Lila e Lila quer ser Lenu, ao mesmo tempo, que ambas lutam por uma individualidade.
Elena Ferrante nos apresenta um texto
homogêneo, não há grandes rupturas, por isso mesmo o texto é tão cativante.
Você vê através dos olhos de duas crianças/adolescentes a história de uma
Itália quebrada tentando se reconstruir. Isso se apresenta principalmente na
evolução que o bairro passa ao longo da trama.
A autora nos traz uma história, que além da
amizade, nos apresenta o quanto estamos envolvidos dentro de uma rede e o
quanto esta rede determina, de certa forma, quem somos e o que podemos fazer.
Sou noveleira, e o livro me remete a teledramaturgia
brasileira, de grandes qualidades. Você fica curioso com o que vai acontecer na
vida de cada um dos personagens, acompanha a vida deles, mas a autora em nenhum
momento nos antecipa os acontecimentos,
e você acaba vivenciando cada um deles no momento exato em que ocorrem.
Gostaria de falar muito mais, no entanto
qualquer coisa que escreva aqui poderá se transformar em um spoiler. Digo
apenas que o final me irritou, não porque foi ruim, e sim porque deixa no ar um
suspense que só será sanado quando ler o segundo livro da tetralogia. E
voltando ao inicio da minha postagem, que bom que eu comecei a ler Elena
Ferrante somente agora, pois os quatro livros já estão publicados e não terei
que esperar ansiosa pelos próximos capítulos.
Nem preciso dizer que recomendo a leitura.
Autor: Elena Ferrante
Série: Napolitana Livro 1
Tradutor: Maurício Santana
Dias
Ano
de lançamento:
2022
Editora: Biblioteca Azul
Gênero: Romance Italiano
Páginas: 336
Avaliação
Prosa Mágica:
5 estrelas
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