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Meia Calça Abelhinha


        Termino a última Sexta de Prosa do semestre com um assunto leve, e que a primeira vista não parece ter nada a ver com literatura: - Meia calça.

Pense em uma perna de mulher com um bom par de meias finas e você terá em mente uma escultura que anda. E isso tem história.

Em 1945, logo após a longa 2º Guerra,  a loja Macy’s colocou um lote de meias de nylon a venda após o período de guerra em que o nylon era usado apenas para fins de guerra, resultado: seus estoques foram esgotados em apenas 6 horas. Era o retorno da meia de nylon adorada pelas mulheres, que se viraram como podiam, inclusive pintando nas pernas a famosa risca “para fazer de conta” que estavam com uma delas.

Meias calças foram uma febre, pelo menos até o final dos anos 70 e inicio dos 80.

Confesso não saber se o fenômeno ocorre apenas no Brasil ou se é mundial, mas aqui, o o artefato parece ter sido relegado ao segundo plano e é raro encontrar alguém usando um belo vestido com uma meia, que agora são de lycra (mais confortáveis).

Sempre achei que as meias deixam as pernas mais bonitas, com se fossem esculpidas. Perde-se a nossa cor original e coloca-se um tom mais saudável, ou então, um colorido marcante.

A meia calça esculpe as pernas porque define contornos, esconde nossos pequenos “defeitinhos” - que nos fazem única, disso eu não tenho dúvidas - mas que, por traz de uma boa e velha meia calça pode nos tornar mais belas, para nós mesmas, que isso fique bem claro.

As meias calças me vieram à cabeça agora por dois motivos. Um deles é que ao fazer minha caminhada matutina encontrei uma mulher, deveria ter uns 21 anos, trajando uma bela meia calça preta, sapato boneca e um casaco abaixo da coxa no estilo trench-coat xadrez. Uma elegância  caminhando pelas ruas e também uma raridade.

Outro motivo é que recentemente vi o filme “Como eu era antes de você” (ainda não li o livro) e a personagem principal aparece com variadas meias coloridas, e ao final ganha um belíssima meia de abelhinha, aquela meia que é listrada de preto e amarelo.

Quando eu tinha uns 25 anos, mais ou menos, minha mãe me deu uma  meia listrada que ia até acima do joelho. Eu amava aquela meia, e usava sempre com minha saia preta e meu Oxford de verniz preto. Era um visual único, que compunha uma Soraya que era autentica. Com o tempo abandonei este visual mais exclusivo e cedi ao comum. Passei a usar as roupas que pareciam corretas para os outros. Um erro, confesso!

Na minha infância recordo-me que minha mãe usava meia calça, naquela época, era deselegante uma mulher não usar, não porque isso cobria as pernas, muito pelo contrário. Sempre achei que pernas com meia calça parecem esculturas que andam, chamam a atenção, são mais sensuais.

Apesar de ser de uma geração que descartou o uso do acessório, eu sempre gostei e usei. Tinha uma Pink, luminosa, que combinava sempre com uma saia-calça Pink ou com uma calça preta que ia logo abaixo do joelho. Também acho um crime colocar um sapato de salto, um vestido de festa sem uma delas. Seria o mesmo que ir a uma igreja de biquíni ou a praia de salto alto e vestido de paetês.

Tenho até hoje alguns pares. Com o tempo passei a gostar mais do acessório escuro, com trama mais fechada, que usava sempre com roupas mais pesadas de inverno. Trouxe da argentina uma estampada, bonita, que se mostrou gigante por conta da numeração inadequada. Triste resultado: - Nunca pude usar.

Não sei o porque das mulheres deixaram de usar a meia calça. Até nas festas de casamento ou formatura elas foram deixadas de lado e o que vemos são pernas nuas, da forma como vieram ao mundo, sem nenhum charme.

Não existe nenhum ato de libertação feminista em não usar essas meias, já que elas nunca foram realmente obrigatório. Meias calças não escondem a perna, evidenciam, compõe um look mais elaborado, que também poderá ser despojado se você souber combinar algo mais colorido e informal.

Não tem idade para se usar. Se aos 50 você quiser usar a de abelhinha ou a tradicional cor da sua pele é uma escolha pessoal. O importante é se sentir bem e plena com você mesma.

Da próxima vez que você pensar em comprar uma roupa nova porque enjoou da que tem, pense em complementar. Uma saia, uma meia e um bom sapato faz de qualquer mulher uma obra de arte em movimento.

Antes que alguém pergunte,  não estou fazendo aqui nenhuma propaganda de alguma fabrica produtora de meias, mesmo porque elas são muitas. Aqui está a reflexão de uma escritora, e como tal, observar a vida é o mandamento principal.

E se você ainda tem alguma dúvida que esta postagem é inadequada para um blog pense em quantos livros você já leu em que é citado uma meia calça, ou filmes. E se isso não bastar, vamos lembrar sempre que todos os livros nascem de uma observação do cotidiano. Essa observação pode gerar um texto no qual a personagem ama a meia calça de abelhinhas, ou pode gerar vida em orques.

 

Bom final de semana!


Filme: Como eu era antes de você

História da Meia Calça


Comentários

  1. Maravilhoso texto ! Maravilhosa Escritora !!!

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  2. Tai uma boa dica para seu novo romance. A personagem principal pode usar em vários momentos. Como escritora, você está se superando a cada postagem. Parabéns, adoro seus textos e a você também. Luís Antonio

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