Gosto de pensar na frase do grande romancista africano Chinua Achebe que afirma “Ver o mundo a partir da posição da pessoa fraca é uma grande educação.”(1) Concordo com ele.
As histórias nos ajudam a
sobreviver a momentos ruins. Carolina Maria de Jesus, autora de Quarto de Despejo,
não escreveu um livro para ser publicado, escreveu um diário no qual
compartilhava com o universo suas impressões, suas dificuldades e seus pensamentos.
O livro veio depois, não era o objetivo.
As palavras, quando
organizadas para contar uma história nos ajudam a compreender o mundo, nos
indicam caminhos, porque um contador de histórias precisa necessariamente se
colocar na pele do outro para transmitir verdade no que diz.
A literatura então, vista
dos dois pontos de vista, o olhar do escritor e o do leitor, é indispensável
para formar o caráter, para desenvolver empatia e principalmente para que ambos
vivenciem vidas que nunca seriam possíveis dentro de suas realidades.
Quando escrevo faço
diálogo com os personagens, eles contam suas vidas e preciso fazer o exercício
da escuta. O escritor precisa aprender a escutar, porque muitas vezes estamos
tão envolvidos no cotidiano que não ouvimos o que a história pede, e então ela
desanda.
O leitor também faz o exercício
da escuta na forma de diálogo com o livro. Quantas pessoas largaram uma
história no meio porque perderam a paciência de ler, ou pularam páginas porque
não conseguiram ouvir os personagens, porque não se despojaram de seus
conceitos e “pré-conceitos” para compreender o outro, mesmo que ficcional?
Fico me perguntando o
quanto isso reflete em nossa sociedade de hoje. O como as pessoas estão
encarando o próximo e a forma como seu olhar, restrito a si mesmo e ao seu
pequeno mundinho, provocam um desequilíbrio sem tamanho, que toma a forma de palavras
como guerra, violência, homicídio, feminicídio etc.
Então, encarado deste ponto
de vista, percebemos que contar histórias e ouvi-las é essencial para formar,
para sensibilizar, para auxiliar na evolução, não importa a sua crença
religiosa, ou a sua não crença.
Na minha humilde proposta
acredito que as pessoas, independentemente de sua escolaridade, cargo, riqueza,
gênero ou qualquer outra classificação, se disponibilize para escrever, para
contar sua história em um diário, que ninguém irá ler, mas com ele poderão
ouvir sua própria voz e compreender seu aqui e planejar o seu devir.
Também aconselho a ler, de
tudo. Peça sugestão, leia o que te incomoda e reflita o porquê do incomodo.
Ouça os personagens e você vai perceber que independentemente de tudo o que
eles representam na história, eles são seres humanos que estão aprendendo, como
você.
É certo que este exercício
vai modificá-lo, fará uma transformação horizontal e vertical. Nunca mais
(talvez não seja correto dizer isso) você se verá em uma situação em que o pré-julgamento
afastará uma oportunidade de convivência e aprendizado.
Tenho consciência que será
uma longa trajetória, mas você está disposto a fazer este caminho?
Linda sexta-feira e um final de semana iluminado.
(1) Em tradução livre
Imagem Freepik
Este texto me fez refletir sobre algumas situações que já vivi. Ao longo da minha vida, li dezenas, talvez centenas de livros e muitos ficaram inacabados, abandonados pela metade, como uma roupa que já não servia. Lendo seu texto, me fez repensar que talvez tenha cometido erro de julgamento por não saber escutar o que o autor/personagem estavam querendo dizer. Serei mais atento nos livros futuros. Abraços amiga. Luis Antonio
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