Tem um conto de fadas dinamarquês muito bonito que se chama O Rouxinol e o Imperador da China que eu vou tentar resumir aqui. Nele havia um Imperador que morava em um suntuoso palácio cercado por um belo jardim. Suas terras eram tão imensas que ele não conhecia o limite delas. Em suas terras, próximo a um lago profundo vivia um rouxinol, cujo canto era tão belo que todos se encantavam, e os visitantes estrangeiros ficavam tão impressionados que falavam do rouxinol quando chegavam em suas casas.
Um dia o Imperador leu em um livro sobre o
rouxinol e ficou espantado: - Como assim? Eu não sei nada sobre um rouxinol. -
E chamou seu marechal e ele também não sabia. Assim, houve uma verdadeira
busca, mas ninguém dentro do palácio sabia nada sobre o tal rouxinol.
Foi uma garotinha simples, que trabalhava
na cozinha que levou a corte até o pequeno rouxinol. Lá, com toda a sua
simplicidade ela disse ao pássaro que o imperador desejava ouvi-lo.
Já no palácio, em meio a uma suntuosa
festa, o rouxinol cantou de maneira tão espontânea e bela que arrancou lágrimas
do Imperador, que pediu que o pássaro passasse a viver lá.
Festas foram dadas e o rouxinol sempre
encantava a todos, sendo tratado com devoção e respeito. Seu canto era um bálsamo
na vida das pessoas. Mas um dia, chega uma caixa com um rouxinol mecânico,
enviado pelo imperador do Japão. Um pássaro mecânico que cantava
maravilhosamente bem, não se cansava nunca, no entanto, cantava sempre a mesma música.
Assim, com o tempo, o Imperador encantado
pela máquina, esqueceu-se do rouxinol e o abandonou, e o pássaro foi embora.
Só que o pássaro mecânico é obra do ser
humano, é finito e se desgasta e acaba quebrando de tanto cantar. Então, os especialistas
aconselham o Imperador a tocar o pássaro apenas umas poucas vezes, pois seu
mecanismo é delicado e não vai resistir muito tempo.
Com o passar dos dias, o Imperador adoece, porque a falta do canto do
Rouxinol deixou trevas no coração dele. O tempo passa e quase a beira da morte
o rouxinol volta e pousa na janela dele, e canta, e com seu canto ele cura o
imperador.
Para o rouxinol, seu canto não era um ato
puro de beleza, ou um trabalho a ser realizado em troca de comida, correntes e
gaiola confortável. O Rouxinol tinha um propósito, que era colocar alegria no
coração das pessoas. Ele cantava porque via que isso fazia bem para os que o
ouviam.
Neste bate papo do Sexta de Prosa de hoje
quero falar um pouquinho sobre propósito, porque normalmente ele é confundido
com objetivo e nada poderia ser tão diferente.
Na vida comum todos nós temos objetivos, e
eles estão conectados com nosso cotidiano, com nossas necessidades. Trabalhamos
porque precisamos ganhar dinheiro, limpamos a casa porque ela tem que estar
higienizada para manter nossa saúde, vamos à casa dos familiares por que fomos
acostumados a fazer isso, quando jovens estudamos porque os adultos dizem que
sem estudo não tem emprego, e assim seguimos uma vida de fazer por fazer, ou
porque precisamos fazer, não há um pensar sobre o que fazemos.
Já o propósito é algo maior que o objetivo,
é algo imaterial que deveria conduzir nossas vidas.
Quando você pergunta para uma pessoa que
trabalha o porquê de fazer isso, na maioria das vezes ela vai te responder que
é porque precisa se sustentar. Então, temos aqui um objetivo bem definido e
justo. Mas, cadê o propósito?
Ele está contido em algo maior, quando
fazemos algo que não está restrito a nós mesmos, mas a um bem comum. Por
exemplo, a pessoa que responde sobre seu trabalho e diz: Preciso me sustentar,
mas eu amo o que faço porque sei, por exemplo, que meu trabalho influencia em um
futuro melhor para estes jovens. (Caso de um professor)
Também podemos pensar naquela pessoa que é uma secretária em uma grande empresa: - Trabalho porque preciso, mas a empresa onde eu trabalho faz um trabalho social muito bom com idosos e me dá a chance de participar. Esse é o meu propósito de vida, fazer um mundo um pouquinho melhor.
Então eu pergunto: - Qual é o seu propósito de vida?
Sei que a pergunta espanta, e muitas vezes
nos deixa sem uma resposta. No entanto, ela deveria ser feita todos os dias ao
se levantar da cama.
Se as pessoas colocassem seus propósitos
acima dos objetivos, não só se beneficiariam dele, mas o mundo seria um pouco
melhor.
Estudar por amor ao conhecimento e porque o
conhecimento nos liberta; limpar a casa porque ela é seu lugar de intimidade,
porque ela reflete o que você faz; trabalhar porque ama, porque o que você faz
contribui para um mundo melhor.
E, para finalizar, na terça feira passada,
na novela “Vai na Fé”, o personagem de Lui Lorenzo falou sobre o ato de cantar,
demonstrou isso em um diálogo rico de referências aos propósitos de vida. Eu
resumiria todo o diálogo dele assim:
- No palco, quando você canta sendo você
mesmo, você compartilha essa emoção, esse amor com todos as sua volta.
É isso! Que tal procurar o seu propósito
neste final de semana?
Bom descanso e boas leituras.
Se
você quiser ler este conto e outros mais em uma tradução impecável, leia a resenha que fiz sobre o livro Os Contos de Fadas em suas versões originais, da
Editora Wish.
Muito bom! Desafio aceito!
ResponderExcluirIsso Magda. Todos precisamos de um propósito. abraços
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