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Beren e Lúthien

Não vou me repetir dizendo aqui que Tolkien é sensacional, e que sua criatividade extrapola a de qualquer escritor que tenha vivido, não porque os outros não fossem gênios, mas porque Tolkien extrapola o que chamamos de criatividade literária.

Escrevo esta resenha em uma tarde fria e nublada. Uma caneca de café quente, necessária e bem vinda repousa ao lado do  laptop. Olho para a capa do livro, brinco com as páginas das belíssimas ilustrações tentado encontrar uma forma de explicar esta edição. As palavras me fogem.

Chego à conclusão de que é melhor começar dizendo que este livro não é para qualquer leitor, mas para leitores de Tolkien, aqueles que já leram e releram as outras obras (O Silmarillion, A Quedade Gondolin, A Queda de Númenor, Os Filhos de Hurin, Contos Inacabados).

Não quero dizer que qualquer um não possa ler, me refiro ao fato de que, por ser uma reunião de boa parte do que o autor escreveu sobre este casal, o livro é mais didático que um romance propriamente dito. Pode se tornar cansativo para quem  não tinha ouvido falar sobre esta história.

No primeiro rascunho da trama, Beren sequer era humano e ao longo dos anos a história foi se desenvolvendo até que Beren se transformou em um personagem humano disposto a qualquer coisa pelo amor da elfa Lúthien.

Termino meu café e ainda estou na dúvida do que dizer. Lembro-me das cenas e percebo que Lúthien é uma mulher forte, uma elfa que não fica esperando seu grande amor, mas parte em sua procura para salvá-lo, e faz isso da maneira mais heroica que se pode imaginar. É um contraponto bem interessante na obra de Tolkien, já que boa parte dos personagens de sua obra são homens.

Lúthien é a mulher que se dissimula e encanta Melkor/Morgoth, e o faz dormir e com isso proporciona a oportunidade que Beren precisa para pegar uma das Silmaril que estava na coroa do grande vilão. Ela mesma poderia ter pego, mas o amor, coragem e renúncia colocam o prêmio nas mãos do amado.

Beren e Lúthien é uma história de amor alusiva a "Romeu e Julieta" e "Tristão e Isolda", que fala de coragem, de compromisso, de amor e de renuncia e que ultrapassa o tempo. Era a história predileta de Tolkien e que foi associada a ele e sua esposa Edith.

“A inspiração para começá-la veio quando Edith dançou para ele no bosque, perto de uma de suas casas temporárias durante a guerra, em Roos, Yorkshire. Por isso Tolkien sempre associou “Beren e Lúthien” a ele e Edith. Em sua mente, os esforços do casal que descreve na história refletiam as batalhas da vida real que ele e Edith tinham enfrentado e vencido.” (1)

No túmulo de Edith está grafado a palavra Luthien, por insistência de Tolkien por ocasião da morte dela. Por isso já dá para perceber a grande importância que este conto tem para o autor.

Os fios que tecem as histórias de Tolkien estão muito bem amarrados, porque ao lado dos romances bem acabados O Senhor dos Anéis e O Hobbit, o autor desenvolveu histórias dentro das histórias o que dá peso e verdade na sua escrita. Afinal, o que é a vida senão um emaranhado de histórias que cada um de nós performamos?

Se eu recomendo a leitura? Com certeza. Mas advirto aos leitores de primeira viagem que não iniciem sua jornada por este livro. Leiam antes a obra principal, e não se fiem por ter visto filme e série. Os livros são bem diferentes.

 

Autor: J.R.R.Tolkien

Editado: Christopher Tolkien

Tradutor: Ronal Kyrmse

Ano de lançamento: 2022

Editora: Harper Collins

Gênero: Ficção inglesa

Páginas: 368

Avaliação Prosa Mágica: Clássico

 

(1) WHITE, Michael. J. R. R. Tolkien: O senhor da fantasia

Foto: Túmulo da família Tolkien onde se pode ler Beren e Lúthien.

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