São 7 horas da manhã e já estou escrevendo. Daqui da sala posso ouvir o café passando na cafeteira elétrica. Ouço barulho que a água faz ao sair da cafeteira e o gotejar lento do café na jarra. Não posso sentir o aroma, aquele cheirinho bom que nos traz um turbilhão de memórias.
Das manhãs da adolescência em que acordava
e não precisa me preocupar em fazer meu próprio café. Do líquido negro preparado
pela minha mãe com muito amor e a dose certa de açúcar. Dos finais de semana em
família que sentávamos a mesa e o aroma do café impregnava a cozinha enquanto
meu pai, meu irmão, eu e minha mãe conversávamos à mesa em uma refeição
agradável.
Café também tem um toque de amor, quando o
marido aguarda pacientemente que eu me levante da cama e passa um café
fresquinho para uma refeição alegre, que na maioria dos finais de semana dura
uma hora de bons bate papos. É bom sentir o aroma do amor mesclado ao do café.
Antigamente você ia à casa de alguém, fazer
uma visita, e logo recebia uma deliciosa xícara de café preparada com carinho.
Era um hábito de hospitalidade das famílias. Hoje, as pessoas nem se visitam
mais e quando isso ocorre, o refrigerante substituiu o bom café.
Nos restaurantes, ao final da refeição o
garçom oferecia o café como cortesia, ele vinha em uma xícara de porcelana
branca, quente, cheirosa... por que café que se faz fora de casa sempre parece
mais gostoso.
Mesmo diante de tanta publicidade, o café
perdeu seu espaço como agente de confraternização, como oferenda a quem
gostamos e respeitamos.
Fico pensando no tamanho das xícaras de
café hoje, enormes e feiosas. Quantidade prevalecendo sobre a qualidade. Eu
ainda tenho aquelas xícaras pequenas com carinha de vovó. Delicadas e com
flores rosa, elas parecem se incorporar ao sabor e melhorar a experiência gustativa.
Apenas uma coisa parece não combinar, as
colheres. Já não se encontra com facilidade as “colherinhas de café”, então
somos obrigados a servir o café com uma colher de chá, que parece desequilibrar
o conjunto, que se apresenta como um invasor do momento e não um delicado
complemento.
Café é lembrança sensorial, é memória
afetiva que borbulha e cheira bem em nossa mente. E hoje, também sabemos de
seus poderes para a saúde, dos benefícios de seus óleos essenciais e da cafeína
em dose certa.
Pode uma xícara ser tão completa como o que
descrevo aqui?
Tem o lado escritora e leitora também.
Adoro quando o livro nos coloca frente a frente com um personagem que pede uma
xícara de café durante um encontro. Ou então, sentado em uma cafeteria parisiense,
o personagem embala seus pensamentos com um bom café.
Percebo que meu café acabou de passar e vou
parar a escrita. Não quero que os óleos essenciais se evaporem antes de
degustar o sabor, porque café bom é aquele que passamos na hora.
E você, quais são suas lembranças ligadas
ao café? Como você gosta dele? – Forte, fraco, com açúcar...
O meu tem que ser forte e sem açúcar.
Um bom final de semana, com boas doses de
café e um bom livro do lado.
O café e meu companheiro matinal desde sempre. O dia começa com uma xícara deste saboroso líquido, sempre forte e com um pouco de açúcar. Gostei muito da publicação deste artigo. Abraços
ResponderExcluirMuito especial este texto! Adoro a sua narrativa, passando sua experiência sensorial, amorosa, poética. Por mais textos assim...
ResponderExcluirEsqueci do meu nome no último comentário. Falei sobre sua escrita.
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