Começo esta resenha dizendo que não é fácil ler este livro, que seus parágrafos homéricos, sua pontuação estranha nos impedem de mergulhar em uma leitura prazerosa.
Lavoura
Arcaica não foi escrita para o prazer, definitivamente. Raduan Nassar construiu
sua narrativa de forma que ela se complemente com a trama densa, excessivamente
bíblica, e ao mesmo tempo com toques de tragédia grega.
Este
livro é de 1975 e nele você se depara com a história do personagem André, o
filho de uma família rural que vive sob o comando de um pai excessivamente
tirano cuja vida se pauta por uma moralidade dogmática e sem limites.
André
sai de casa em busca de seu próprio eu e se joga em uma pensão imunda. O irmão
mais velho, Pedro, vai atrás dele em uma tentativa de levá-lo de volta ao lar.
Neste estágio da trama André transita em um looping temporal no qual você se
depara com os problemas, as dúvidas e as culpas deste personagem, que parece
ter se afastado da família por algo que nem mesmo ele sabe.
As
lembranças de André, pontuadas pela forma como o autor as descreve – parágrafos
homéricos, pontuação desordenada. – representam na grafia e construção frasal a
confusão mental do personagem, suas dúvidas, sua “loucura” interna quando tenta
ordenar fatos e sentimentos.
A
segunda parte do livro complementa a primeira, não de forma bíblica, pois no
retorno do filho pródigo ele deseja realmente retornar, no caso de Lavoura
Arcaica André parece ter retornado para um ajuste de contas com os familiares.
É
um livro intenso no verdadeiro sentido da palavra. Há trechos poéticos, que nos
mostram uma veia clássica em Raduan Nassar, mas há trechos maçantes, que você
precisa de muita vontade para vencê-los.
É
uma narrativa que pode ser analisada do ponto de vista psicanalítico, já que o
incesto foi objeto de estudo de Freud, e no caso de A Lavoura Arcaica parece
ser um ponto crucial na relação que André mantém com os familiares.
O
livro não foi escrito para proporcionar prazer, muito menos identificação com
personagem e história. É uma trama para se envolver com a forma, com os detalhes
da construção da narrativa.
Infelizmente
algumas universidades estão exigindo que seus candidatos leiam este livro para
prestar o vestibular. Definitivamente não é um livro para um adolescente ler, é
talvez uma passagem sem volta, para que este estudante, que já está mais
conectado com a tecnologia que os livros, passe a odiar a leitura. É preciso
que se repense isso.
E
você, já leu este livro? Qual é a sua opinião sobre a trama?
Autor: Raduan Nassar
Ano
de lançamento: 1975
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Literatura Brasileira
Páginas: 200
Obs:
3º edição
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