Talvez nós, mulheres que nascemos nas décadas de 70, 80 e 90 não valorizamos muito todo o legado de uma geração anterior que lutou, batalhou por um mundo melhor. Como alunas das escolas, nos irritávamos com nossos professores de química ou outras disciplinas, sem saber que era um “presente” que nos foi legado por gerações anteriores. Que aquele conhecimento poderia ser libertador, que aquele conhecimento havia sido negado às mulheres durante séculos.
Uma
Questão de Química, livro de estreia da autora Bonnie Garmus, que debuta aos 65
anos no mercado editorial, nos traz exatamente isso: a luta das mulheres para
serem respeitadas na ciência e em outras áreas da sociedade.
É
um livro que contém uma premissa muito diferente do que se tem lido por aí em
aspectos abordados pelo feminismo. A autora foi criativa e inovadora rompendo
uma bolha de textos áridos sobre o tema.
No
centro do romance está Elizabeth Zott, uma talentosa química, autoconfiante e
imune às convenções sociais, “uma mulher com um comportamento inconfundível de
alguém que não era mediano e nunca seria”.
O
romance se passa no início dos anos 1960, no sul da Califórnia. Ser mulher na
ciência é um caminho difícil e solitário (ainda é). Elizabeth acaba se tornando
uma celebridade nacional não por suas qualidades como pesquisadora de química,
mas por apresentar um programa chamado Hora do Jantar, que tinha tudo para
ser um espetáculo para enquadrar a mulher dentro de um lugar que a sociedade
acreditava ser o dela, mas que Elizabeth usa como libertação, um lugar para
dizer a todas as mulheres que elas podem e devem seguir seus sonhos, porque
elas são poderosas, são plenas e capazes.
Em
um trecho contundente, Elizabeth diz a um repórter:
“Quando as mulheres entendem de
química, elas entendem como as coisas funcionam”. A ciência oferece “as regras
reais que governam o mundo físico. Quando as mulheres compreendem estes
conceitos básicos, podem começar a ver os falsos limites que foram criados para
elas.”
Na trama, Elizabeth conhece um talentoso
químico Calvin Evans no Hastings Research
Institute. Ele é um gênio mal humorado, remador e que não se encaixa muito
bem na sociedade em que vive. Literalmente a química acontece entre eles, e o
relacionamento entre os dois parece aumentar o ódio que as outras pessoas
sentem por quem é diferente.
A história tem seus altos e baixos, como
toda trama, como toda vida real. Elizabeth não é perfeita, chega a ser
irritante em algumas cenas. Pode provocar em nós uma reação do tipo: - porque
você não ficou de boca fechada? – E daí você segue a leitura sabendo que aquilo
que a personagem falou terá graves consequências para ela mesma.
Elizabeth explicando a ligação do
hidrogênio em meio a um prato para o jantar, ou iniciando seu programa
explicando como envenenar uma pessoa sem deixar rastros é intrigante. Em uma
cena interessante no livro que demonstra o “efeito Elizabeth” em outras
mulheres, quando podemos “ouvir” uma conversa de duas mulheres na rua sobre
pontos de fusão, e uma delas explicar que é por isso que irá comprar uma nova
frigideira.
A história tem o tom de dramaticidade
correto e não é “panfletária”. Demonstra exatamente o que acontecia (e acontece
ainda) com as mulheres que ousam ser mais do que a sociedade permite.
O livro me encantou e com certeza já está nos
planos para o Clube de Leitura.
Só uma coisa me intrigou. A capa atual é da
série que está passando na Apple TV, mas anteriormente achei pelo menos três
capas diferentes para edição brasileira, sendo uma delas com o nome original Lições de Química. É um mistério que
ainda vou desvendar.
Autor: Bonnie Garmus
Tradutor: Maria Carmelita Dias
Ano
de lançamento: 2023
Editora: Arqueiro
Gênero: Ficção americana
Páginas: 448
OBS: As fotos das diversas capas foram tiradas da internet.
Leio todas suas publicações, comento algumas, mas esta de agora é muito interessante. Em poucas linhas você consegue despertar no leitor o desejo de conhecer o livro, como no meu caso. O exemplo que você cita, se aplica não somente as mulheres, mas a milhares de estudantes (ainda hoje) que frequentam uma escola, uma universidade, apenas com o pretexto de ter uma "turma" e um diploma. O conhecimento, bem, isto depois a gente vê como fica.
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