Queridos leitores e leitoras! Animados para o Carnaval?
Que tal antes da folia, dos confetes, das
serpentinas fazer uma exploração dos meandros fascinantes da literatura
brasileira? Prometo que não vai demorar.
Depois de uma viagem pelo mundo das
árvores, agora mergulho nas páginas frenéticas e desvairadas de Pauliceia Desvairada de Mário de
Andrade. O desfile da escola de samba Mocidade Alegre me incentivou a
compartilhar com você a intensidade e a riqueza desta obra.
Pauliceia
Desvairada
é uma explosão criativa que reflete a efervescência cultural do movimento
modernista brasileiro. Abrir as páginas deste livro é uma viagem no tempo, é um
retorno a São Paulo do inicio do século XX, uma metrópole em rápida
transformação, pulsante de energia e de contrastes. Mario de Andrade, com sua
inteligência e sensibilidade, capta a essência dessa cidade em ebulição, e nos
apresenta poemas como flashes que capturam a diversidade, os conflitos e a
intensidade da vida urbana.
Mario de Andrade usa uma linguagem ousada e
inovadora, uma verdadeira celebração da experimentação literária. Cada poema parece ser uma tentativa audaciosa
de romper com as amarras tradicionais, buscando uma expressão autêntica e, por
vezes, caótica. É como se o autor estivesse desafiando as palavras a dançarem
ao ritmo frenético da cidade, capturando não apenas o visual, mas também o som,
o cheiro e a textura de São Paulo.
Se você fechar os olhos por alguns instantes conseguirá sentir os aromas, ver as cores e os ruídos que impregnavam a cidade. A casa de chá do Mappin na Praça Ramos, com suas mulheres elegantes, homens bem trajados, uma elite intelectual que entre um gole e outro de chá discutia o rumo de uma cidade que se transformaria em uma grande megalópole.
Tempos em que as pessoas se reuniam para
ouvir poesia, discutir filosofia, pintar telas e romper as amarras de
determinadas tradições. Anos en que a arte e a cultura no geral estavam
fervilhando de um profundo sentimento nacionalista na qual as raízes
brasileiras são valorizadas em todos os setores, e se veem presentes em cada
verso, cada história, cada pincelada ou nota musical.
Construíam-se pontes naqueles tempos e não
muros.
Ao ler Pauliceia Desvairada, ao ouvir a
história da época e o amor da construção de um enredo, começo a repensar o
papel da arte na sociedade. Mario nos convida a enxergar o mundo com novos
olhos, a apreciar a beleza nas imperfeições, nas contradições, na complexidade
da experiência humana.
Como está nosso olhar para esta cidade
hoje? A diversidade que antes existia virou uma maçaroca indistinguível. São Paulo ainda é São Paulo ou perdemos nossa
identidade por não saber valorizar o que era apenas nosso?
Penso que hoje não estamos tão desvairados
assim, que pena! Perdemos a garoa, perdemos nossa vocação cultural, perdemos a identidade como cidade única e
nossa condição de ir e vir. Não se engane com minhas afirmações, amo loucamente
esta cidade desvairada, hipercomplexa, perdida em um caldeirão cultural.
Que uma nova semana de arte, desta vez
contemporânea possa surgir aqui e revolucione a forma como olhamos e sentimos o
mundo. Que venham novos caminhos!
Bom final de semana! Se for pular que seja de alegria e se ficar em casa leia.
Imagens tiradas da Web:
1- Salão de Chá do Mappin.
2 - Fachada do Mappin Praça Ramos.
3 - Confetes e serpentina.
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