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Sonhando a Palestina

Em tempos de polarização de opiniões e de intolerância é importante dizer que este livro é extremamente tendencioso em sua condução da história que se passa em meio ao conflito no Oriente Médio. Nem por isso, deixa de ser uma literatura interessante de ser lida e analisada.

A autora Randa Ghazy, filha de egípcios e cidadã italiana, tinha apenas 15 anos quando escreveu esta história, e é espantoso o nível emocional e a profundidade que ela colocou em sua trama.

Há uma mescla interessante entre prosa e a poesia empregada pela Randa, que nos momentos de contar a trama usa de uma prosa enxuta, que você percebe nitidamente influenciada pelas notícias na mídia. É uma visão de quem olha de fora, de um pais distante e não vive o conflito.

Já nos momentos em que ela precisa passar emoções e sentimentos internos, usa da poesia como recurso. O texto, neste sentido, não está lá para que você compreenda, mas para que você sinta.

A trama de Sonhando a Palestina tem como pano de fundo a Intifada, que foi um violento movimento dos palestinos contra a ocupação israelense de seu território. Nele, oito jovens que já nasceram em meio aos conflitos vivem a agruras de estar em um território em guerra, de viver a morte, a perda e a incerteza de um futuro.

A autora vai fundo no universo desses jovens, e fala da frustração, da miséria e do ódio que nasce dentro de quem acredita não ter opção. Por outro lado, Randa também nos mostra o amor e a amizade como, uma réstia de esperança de um mundo melhor.

São jovens como Ibrahim, filho de um homem que sabia apenas rezar dia e noite, mas que não tinha nenhuma conexão com o filho; Nedal, que tinha uma bela família, mas que foi dizimada pela ocupação; Ualid, um jovem revoltado, fruto de uma educação focada no ódio, e os irmãos Jihad e Riham, que perderam a família, mas que formam um uno indissociável.

Há um toque de Romeu e Julieta na paixão de Ramy, palestino, por Sarah, uma garota judia; e o final triste, mas não trágico do romance entre eles.

Randa Ghazy aborda temas controversos, sem dúvida nenhuma, por exemplo, o livro foi visto como antissemita nos Estados Unidos. No entanto, precisamos analisar que Sonhando a Palestina é uma visão adolescente de um conflito que desafia até as inteligências e experiências mais aguçadas do mundo. A autora escreve olhando as notícias, talvez influenciada pelos pais, em uma fase em que os sentimentos das pessoas estão à flor da pele.

No entanto, ao contrário do que muitos podem pensar, caso não tenham lido as orelhas do livro, Randa vive perto da moderna Milão, muito longe do cotidiano sobre o qual descreve.

É um paradoxo a escrita da autora e sua experiência pessoal de vida. Confesso que estou até agora sem entender.

Procurei outras informações sobre ela, e vi que há mais dois livros publicados: “Entre o Véu e a minissaia” e “Hoje talvez não mate ninguém”. Percebo que ela não mudou o foco de sua escrita.

- Agora você vai me perguntar como este livro chegou as minhas mãos?

Foi por acaso, em uma feira do livro no condomínio. Em uma bancada de livros a escolher, o título se destacou.

- Vale a pena a leitura?

Sempre, nenhum livro deixa de te ensinar algo. Tudo o que lemos acrescenta informação, nos leva a reflexões, faz um alongamento do olhar, mesmo que você não concorde com a visão apresentada.

Confesso, Sonhando a Palestina é um livro bem difícil de resenhar, não só porque toca em assuntos sensíveis, mas também por ser um tipo de literatura que não estou acostumada a ler.

Autor: Randa Ghazy

Tradutor: Monica Braga

Ano desta edição: 2006

Editora: Record

Gênero: Literatura Italiana

Páginas: 210

Comentários

  1. Se ela escrever este livro, afinal já se passaram 20 anos desde que foi publicado, com certeza a visão dela sobre os fatos seria outra. Em 1948 a ONU contemplo a criação do Estado de Israel para os judeus e esta demorando para deixar os palestinos em sua terra em definitivo. Por que não?

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