Muitas vezes a beleza está contida dentro do interior e precisa ser percorrida com cuidado, com o carinho de quem segura uma borboleta azul para soltá-la instantes depois.
Neste livro o tema recorrente é a morte.
Sayo sofre um terrível acidente que mata o namorado dela, Yoichi, e a deixa
entre a vida e a morte.
É quando a protagonista “viaja” para o
mundo dos mortos e encontra seu avô e seu cão de estimação. Lá, diante de uma
profusão de cores e boas energias, o avô da protagonista a leva de volta a sua
vida material, pois ainda não era o
momento do desencarne dela.
O que eu gostei muito neste livro é
acompanhar a viagem interior da personagem. A saída dela da “morte”, o caminhar
como uma morta-viva pelas ruas de Tóquio e Kioto e a redenção, o momento em que
ela percebe que a vida se basta, que o importante é o que fazemos com a
oportunidade que temos de viver o aqui e agora, o instante presente.
O encontro dela com Ataru, um homem cuja mãe morta ainda habita este planeta. Tem Shingaki, o dono do bar, que está sempre acompanhado da irmã morta. Têm os pais do namorado de Sayo, que a consideram como membro da família, um lugar ocupado pelo filho que agora está morto. Interessante ver a importância deste acolhimento para Sayo e o quanto esta atitude fazia a diferença na vida dela.
Creio que uma das grandes discussões
contidas no livro é a permanecia imanente das pessoas que morrem. Isso se dá
através do que elas deixam dentro dos outros,
como lembranças, carinho, amor e também nas obras materiais que elas fizeram ao
longo de sua existência. No livro, o namorado de Sayo era um artista plástico e
suas esculturas continuaram vivas, eram energeticamente fortes para refletir a
existência dele.
Isso nos faz pensar no que estamos deixando
para quem irá ficar após nossa morte. O que estamos fazendo para deixar algo, ou seja, lembranças, amor, bons momentos ou obras?
Também nos faz pensar na morte como algo feliz.
A mãe de Ataru é um espírito feliz, que está sempre à janela sorrindo. Assim, a
sensação ao ler é de que a morte não é algo a se temer, mas algo a se
desbravar.
Banana Yoshimoto construiu um “livro
carinho”, uma história para aquecer o coração. É algo que, mesmo tendo a morte
como tema, acaba sendo vida e totalidade.
A autora escreveu este livro após o
terrível terremoto de 2011. A escrita dela com certeza trouxe consolo aos leitores.
Recomendo como livro de cabeceira, aquele
que abrimos de vez em quando para ler uma frase aleatória. Claro, depois de ler
toda a obra.
Preciso lembrar que Doce amanhã é um livro escrito por uma japonesa, então é necessário
desacelerar, ler sem pressa, observar cada capítulo como se olha para um jardim
zen. Somente assim você compreenderá a história e terá o prazer da leitura.
Autor: Banana Yoshimoto
Tradutor: Jefferson José
Teixeira
Ano
de lançamento:
2023
Editora: Estação Liberdade
Gênero: Ficção Japonesa
Páginas: 128
Com certeza este livro que você indicou deve ser incrível ! muito interessante e a consciência de cada vez mais darmos valor a vida ❤️
ResponderExcluirQue texto! Deve haver muito sentido em tudo que autora escreve. Não creio que nossa existência se limita a uns poucos anos de vida e depois desaparecemos. Tem que haver algo maior. Fiquei impactado com suas palavras na apresentação desse livro. Feliz aquele que consegue deixar alguma coisa para ser lembrado, como fez o namorado de Sayo. Sensacional sua resenha,
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