Eu era muito pequena quando meu pai me mostrou as estrelas. Quantos anos eu tinha? Quatro, cinco anos, sei lá, mas lembro-me como se fosse hoje. Nós dois sentados em uma mureta, em frente a uma fábrica na rua onde morávamos no bairro do Limão.
Foi um instante mágico ver todas aquelas
luzinhas brilhantes, há uma distância tão grande que minhas mãozinhas não
poderiam tocar que apenas meus olhos podiam alcançar de leve.
A menina que olhava aquele bordado noturno
não via as fadas, as bruxas, os deuses que a embalavam nas histórias de ninar,
era uma garotinha que estava vendo pela primeira vez a ciência.
Na força daquele momento a criança que
existia em mim não compreendia a grandeza de tudo, pois como criança meu mundo era os pais , o irmão bebe e ela mesma.
Aquele pequeno piscar de estrelas, pontuado
pelo meu pai, trouxe mais que a pura poesia, a vida da garota que eu era seria
para sempre marcada pela ciência.
Papai, afeito a ciência, alguns anos depois
em uma cozinha toda rosa, tão rosa de mergulhar em sonho, espetou uma laranja
em frente a uma luminária. Eu e meu irmão, um pouco mais velhos, assistíamos fascinados
ao espetáculo da Terra-laranja girando em frente à luminária-sol. Era o dia e a
noite que se sucedia em um Universo cor de rosa.
Nunca duvidei que a Terra é redonda.
Compreender os fenômenos naturais não tirou
de meus olhos e coração a poesia, muito pelo contrário. Um por do sol, o
transcorrer das estações, o brilho das estrelas a olho nu, as fotos do Universo
tiradas pelos telescópios Hubble e James Webb, o profundo azul da Terra vista
da estação espacial e o fato da Terra ser uma grande bola que flutua em um
espaço ainda desconhecido, tudo é motivo para amar muito mais o meu entorno. A
vida, meu caro leitor, é pura poesia e quando você começa a entender os
mistérios, ela passa a ser mais especial e bela.
Meu pai tinha pouco estudo. De família
muito humilde sempre precisou trabalhar muito para sobreviver. Queria ser
jogador de futebol, teria sido da turma do Pelé, mas naqueles tempos jogar
futebol não enchia a barriga de ninguém.
O que ele tinha de especial?
A vontade de conhecer, a busca de
informação, porque ele sabia que dinheiro não compra conhecimento, não é o
estudo que vai determinar quem você será, é a sua vontade de buscar, de
conhecer, de não se contentar.
As estrelas brilham para todos. Na mansão,
no Castelo, no barraco das favelas, em todos os continentes, bastar olhar. Só
não vê estrelas quem vive em uma caverna. Platão?
O caminho do conhecimento é algo muito
pessoal. Família, escola, ambiente onde se vive não é determinante para quem
você deseja ser.
Então a mulher de hoje se encontra com a
menina que viu as estrelas pela primeira vez, e a cada novo encontro um brilho ilumina o caminho.
Sinto, no fundo do coração, que minha
obrigação, doce obrigação, é seguir passando todo esse amor pela busca do
saber. Recebi isso dos meus pais e não posso deixar parar em mim.
Menina, adolescente e mulher que um dia
será uma idosa que sairá por aí ouvindo estrelas.
- É certo perder o senso?
Sim, mas não perca nunca o comum, aquele
que pertence à ciência.
Olho, ouço, sinto, compreendo e faço significação
Bom final de semana, e se puder, pare para
ouvir as estrelas.
Foto: Sem crédito. Fruto de pesquisa
Google.
Caso você conheça o autor, por favor, me
informe para que possa dar os devidos créditos.
Querida mulher, jovem, criança... Escritora e amiga.
ResponderExcluirVocê é tão encantadora falando das estrelas, da Terra - laranja e de seu pai inteligente , que me lembrou muitos momentos com o meu pai.Tivemos a ventura de termos pais que buscavam o conhecimento e nos incentivavam ao estudo. Um beijo no 💖.
Confesso que leio todas suas publicações, muitas vezes comentando trabalhos de outros escritores, embora sempre tenha um toque da sua sensibilidade, mas este texto sobre as estrelas você se superou. Me levou de volta a minha infância, que era normal ficar às noites sentados na frente da casa observando as estrelas e sonhando com um mundo imaginário e tentando entender, como criança, como as estrelas brilhavam, se não tinha perigo da lua cheia cair sobre nossa casa. Foi um festival de boas lembranças. Obrigado por permitir isso aos seus leitores. Abraços, Luis
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