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O Clube do Livro do Fim da Vida


Peço licença aos meus leitores para extrapolar nas minhas análises e fazer da resenha de O Clube do Livro do Fim da Vida, muito mais um bate papo que uma resenha propriamente dita.

Penso em Will Schwalbe como uma pessoa privilegiada e ao mesmo tempo de uma sensibilidade incomum. Escrever um livro sobre a própria mãe lutando contra um câncer sem cura, falar de livros e literatura e transformar tudo isso em uma história que prenda o leitor, não é uma tarefa fácil.

O que dizer de um livro que trata da verdade? Que fala de uma mulher genial. Que lutou e defendeu refugiados, pessoas frágeis e desprotegidas, e que ao mesmo tempo cuidava da família, gostava de arte, lia como uma devoradora enlouquecida e demonstrava uma força sem limites ao lutar contra uma doença cruel.

Mary Ann é a personagem principal, mas Will é um condutor tão generoso e tão hábil que nos deixa penetrar em sua mente e processar todo o amadurecimento que é necessário para aceitar a morte próxima de um ente mais que querido.

A cada comentário, a cada livro, uma nova lição de vida. São momentos de uma intimidade profunda que ele compartilhou conosco, e que poderá com certeza ajudar muitas pessoas que estão passando pelo mesmo problema.

Mary nos ensina a ser fortes, a lutar pela vida, a acreditar que tudo pode ser melhor do que enxergamos. Sua visão da literatura era fascinante. Ela parece sempre encontrar algo de positivo na trama, ou por que realmente o autor desejou passar esta informação, ou pelo simples fato de que por traz daquelas páginas há um ser humano que dedicou horas de sua vida escrevendo aquele livro, e que só por isso merece ser respeitado.

Se apenas isso não for o suficiente para que você se interesse pelo livro. O Clube do Livro do Fim da Vida é um guia de leitura. Há dicas de leitura para pelo menos dois anos de trabalho prazeroso.

Vou citar apenas algumas, já que a maioria não tem tradução para o português. Uma delas é o livro de Alan Bennett (Uma real leitora), no Brasil editado pelo Rocco: John Updike (São vários os títulos; Stieg Larsson (Os homens que não amavam as mulheres), um livro que confesso já ter pegado nas mãos diversas vezes e devolvido a prateleira da livraria, mas que agora está na minha lista de futuras leituras.

Enfim, muitas vezes ficamos tão ávidos em ler fantasia que os bons livros biográficos acabam ficando em último plano. Alguns autores, no entanto, com todo o seu talento nos deixa conhecer e penetrar na vida de pessoas que valem a pena conhecer.

 

Li este livro pela primeira vez em 2015 e quem diria que no ano seguinte passaria pela mesma situação com a minha própria mãe. Diferentemente do livro, ela não encontrou médicos com a sensibilidade da médica de Mary Ann, nem um sistema de saúde que proporcionasse um prolongamento de sua vida. Nós, os filhos, não obtínhamos informações muito concretas dos médicos que a atendiam, porque eles pareciam não se importar com isso, ou talvez não tivessem tempo. A cada vez que ela passava mal era uma jornada de pelo menos 8 horas no hospital sendo que boa parte delas apenas aguardando o atendimento.

Aprendi muita coisa durante este período, e uma delas é que para ser médico a pessoa tem que ser um ser humano sensível. Minha mãe recebeu a notícia que estava com um câncer da forma mais brutal que alguém poderia receber. O médico sem nenhuma sensibilidade literalmente “vomitou” estatísticas na cara dela, dando uma perspectiva de morte para aquele caso. Outra pessoa teria se jogado debaixo de um carro ao sair do consultório médico. Ela não fez isso, mas a forma como descobriu estar doente foi determinante para o desenrolar da doença.

O que se percebe é que o sistema de saúde não está preparado para os cuidados paliativos de pacientes com câncer. Muitos médicos ainda acreditam no “reinado” e não dão satisfação do que estão fazendo, sem a percepção de que informação é ouro quando se fala da luta pela vida.

Minha mãe se foi um ano após o diagnóstico. Talvez tivesse vivido mais se o primeiro médico tivesse tido a sensibilidade de dar esperanças sem mentir, eu nunca saberei disso, infelizmente. O que posso dizer é que cada linha de “O Clube do Livro do Fim da Vida” me fez reviver aqueles momentos, e sou grata demais por ter estado ao lado dela cada segundo, e ao meu irmão, que também sempre esteve junto e sem a força dele eu não teria suportado esta jornada.

E se você ainda me perguntar sobre recomendação eu digo que este livro é primordial e obrigatório,

 

 

Autor: Will Schwalbe

Tradutor: Rafael Mantovani

Editora: Objetiva

Ano desta edição: 2013

Gênero: Biografia

Número de páginas: 396

Comentários

  1. Querida, li seu post, apreciei suas considerações e, recordei passagens da vida de minha mãe, que infelizmente também morreu de câncer. Faleceu três anos e meio depois de diagnosticada. Sofreu bastante, mas, teve uma assistência para a época, boa. Não sei se vou querer ler o livro,mas fica a dica.Obrigada.

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