Em uma semana olímpica talvez ninguém, ou quase ninguém, se lembre que dia 25 de julho é o dia do escritor nacional. Acho estranho nos dividir em nacionais e internacionais, já que acredito que nós escritores somos uma nação a parte. Formamos um grupo acima das fronteiras não só físicas, mas as temporais.
Se houvessem fronteiras temporais hoje não
teríamos Shakespeare, Machado de Assis, Ovídio, Victor Hugo, Graciliano Ramos e
muitos outros que já se perderam pelo passar dos anos e dos séculos.
Porque Clarice no título?
Não é por acaso. Clarice é o sinônimo desta mistura além das fronteiras. Uma Ucraniana que escreveu em português, que quebrou regras da escrita e que somente virou assunto novamente porque um pesquisador americano desenvolveu um trabalho sobre ela e publicou um livro biográfico incrível. Quer mais “alem da fronteira” que ela?
Ontem mesmo, em um bate papo literário no
qual Clarice estava incluída, falávamos sobre grandes escritores e sobre o papel deles, caso escrevessem suas obras hoje. Bem, creio que não teríamos o prazer de
ler Alice no País das Maravilhas, porque nenhum editor de literatura infantil
publicaria a história. Muito fantasiosa, texto longo, rainhas muito más,
rituais antigos e sociedade de classes. Quem teria coragem de ousar?
Coitado do Tolkien! Imagino um editor
recebendo o calhamaço de O Senhor dos Anéis, um catatau de mais de 1000 páginas
de um mundo totalmente inexistente, com seres que muitas vezes são confundidos
erroneamente com imagens bíblicas. Creio que nenhum editor passaria da primeira
página e caso passasse, como publicaria uma obra daquele tamanho em um mundo
que lê cada vez menos por conta de internet? Em um mundo em que uma pessoa
manda uma mensagem no whatsapp com os seguintes dizeres
“Vou vender pedaços
de bolo de chocolate, hoje entre as 18h e às 20 horas na porta da faculdade Xis.
Cada pedaço custa R$5,00.”
Então
as perguntas começam: “Tem bolo de laranja?” “Quanto custa o pedaço?” “Que
horas você vai vender?” “Onde você vai estar?”
Perceba que não houve leitura do recado,
talvez a única retenção tenha sido da palavra “bolos”.
Voltando a Clarice Lispector, nossa querida
e amada escritora. Ela é considerada a mais importante de nossas autoras do
século XX. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas
psicológicas. A epifania dos personagens é muito comum em suas obras e as
grandes características dela são o uso intensivo da metáfora insólita, a
entrega ao fluxo de consciência e a ruptura com o enredo factual. Em A Hora da
Estrela é angustiante caminhar dentro da cabeça da personagem Macabéa.
Recentemente a influenciadora Courtney Henning publicou um vídeo sobre a leitura e a
paixão por Clarice. É delicioso ouvir as palavras que ela coloca, e maravilhoso
ver que ela quer conhecer toda obra da autora, uma obra que exige fôlego e foco
na leitura.
Aqui em São Paulo, e futuramente no
restante do país, tem um caminhão de 15 metros circulando com atividades
interativas focadas nas obras infantis de Clarice. Dentro do caminhão uma
reprodução da sala da autora e fora dele, as crianças podem interagir com
máquinas de escrever. Que delicia! Ver Clarice circulando por ai e encantando
crianças com suas obras.
E você, meu querido leitor e leitora, já
leu algum texto da escritora? O que você pensa do cenário atual da literatura?
Você tem filhos? Eles leem? Você lê?
São tantas perguntas que eu gostaria de
fazer para você leitor que já perdi a conta.
Escreva para mim? Conta um pouco de sua relação com a leitura. Ficarei muito feliz em receber seu recado. Caso não consiga publicar suas respostas aqui nos comentários, use o QR code para acessar o e-mail do blog.
Lindo final de semana repleto de leituras e
bons momentos.
Já pensou daqui a muitos anos, uma blogueira escrever sobre as obras atuais? Teria pouco para contar, pois tudo hoje é descartável. Será que daqui a 50 anos haverá livros de papel, um colunista preocupado em enaltecer as qualidades de algum escritor de hoje, como você esta fazendo com Clarice Lispector? Não acredito! Vamos curtir este momento, pois como um rolo compressor, o passado vai sendo esmagado pela tecnologia e pelo desinteresse de praticar a leitura. Como escritor, sinto que esta situação já é uma realidade, e lamentavelmente, com o passar dos anos, ela vai se solidificar. Quanto a livros da autora em questão, li, há muitos anos, A Maçã no Escuro.
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