Esta semana estive na rua José Paulino. Para quem não conhece, esta rua fica em um bairro antigo e charmoso de São Paulo chamado Bom Retiro. Lar de imigrantes, de pessoas que vieram para o Brasil com esperanças e força de vontade, pessoas que construíram esta cidade que tanto amo.
Em
minha memória afetiva, o Bom Retiro ocupa um lugar de amor, aconchego e saídas
com minha mãe e com meu pai. Não éramos uma família abastada e a José Paulino
era um bom lugar para adquirir roupas por um bom preço.
O
passeio sempre começava na estação de trem Pirituba, era a parte que eu não gostava
muito. Partíamos de lá em direção a Estação da Luz, aquele esplendor de lugar. Eu
ficava sempre de queixo caído olhando para aquela arquitetura monumental. De lá
seguíamos a pé margeando o Parque da Luz, sempre evitando passar embaixo das
jaqueiras, com seus enormes frutos que caiam na calçada sem aviso. Era uma
aventura.
Rapidamente
estávamos na José Paulino. E lá entravamos e saíamos de lojas em um vai e vem
frenético. Meu pai não ia nestas incursões, somente nos deixava na estação de
trem e depois ia nos pegar lá. Quase sempre fazíamos uma parada na loja de
pijamas para comprar um presente para meu pai. Lá um senhor muito simpático,
que sempre nos reconhecia, nos recebia com sorriso e boa conversa. Anos depois,
quando estava na Faculdade, descobri que o senhor simpático era o pai de um
colega de sala.
Esta
rua sempre foi o símbolo de compartilhamento com minha mãe. Do vai e vem de
nossos pés, das tentativas infrutíferas de colocar roupa em cima de roupa, já
que não havia provadores nas lojas. Da grande galeria com uma rua no meio que
sempre passeávamos, sabendo de antemão que não compraríamos nada por lá e do
restaurante Falafel Malka que parávamos, nem que fosse para apenas um
refrigerante.
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Empório Catupiry modernizado |
Também tínhamos um programa delicioso, este compartilhado com meu pai. Aos sábados íamos à fábrica da Catupiry comprar o famoso queijinho na caixa redonda de madeira. Era e é o meu predileto. Lá o proprietário da fabrica caminhava pela fila de compradores dando sorrisos e bom dia. Nas mãos sempre havia um pedaço de queijo que distribuía a todos os que lá estavam. Era a gentileza em pessoa.
Tinha
as idas a rua dos Italianos e seus arredores. Por lá minha mãe comprava tecido
para costura. Nas lojas os vendedores alegres nos atendiam bem, com carinho e
mesmo que o preço fosse igual de outros lugares, era o atendimento que ganhava
nossa atenção.
Depois
que entrei na faculdade acabei frequentando bem mais o Bom Retiro. Estava
sempre na rua três rios fazendo as oficinas que o Centro Cultural oferecia.
Descia do metrô e ia a pé até lá. Não havia perigo.
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Oficina Cultural Três Rios |
O Bom Retiro mudou, está bem diferente. As lojas da José Paulino parecem cubos de concreto que se repetem ao longo da via. A maioria continua no mesmo esquema de não ter provador, mas as roupas já não são mais baratas que no shopping e as mercadorias chinesas invadiram as araras.
A
modernização do bairro se deu sem planejamento e uma parte das fachadas foi drasticamente
alterada. É uma pena que uma cidade como São Paulo não tenha dado atenção a
isso. O antigo não precisa ser alterado para dar lugar ao novo. Eles se
completam como um longo diálogo que atravessa os séculos.
Enfim,
resta lembrar dos bons tempos, não com tristeza ou saudosismo, mas com a
alegria de quem teve o privilégio de vivenciar a transição, de ver o antigo e
usufruir do moderno. Tempos em que o antigo sobrevivia enquanto o novo se
aliava a ele, sem destruir.
Resta
finalizar o Sexta de Prosa de hoje. Esta postagem poderia ter diversos fins
diferentes. Poderia falar a excelência do bom atendimento ao cliente, da
arquitetura, do respeito ao antigo, mas resolvi que terminaria de outra forma.
Aproveite
cada momento de sua vida porque ele é único. Cada segundo que você vive constrói
a pessoa que você é. Pense nisso neste final de semana.
Bem,
se morar em São Paulo. Vá passear pelo Bom Retiro, tire um tempo para observar,
para caminhar sem pressa e saborear o antigo.
Bom
final de semana!
Este texto me fez recordar momentos da minha infância/juvenude, quando iamos na Rua General Osório, a principal de São Carlos, e lá, na época, era um shopping a céu aberto. Havia um pouco de tudo. De bancos até mascates circulando, era uma festa diária, mas o tempo foi passando, a modernidade foi chegando e empurrando para fora o que era antigo e funcionava. Hoje restam algumas lojas, mas perderam o "glamour", são sem graças, vendedores desinteressados e não salvou nem a tradicional Casas Pernambucanas, onde meus pais iam frequentemente comprar tecidos e hoje, acho que nem isso tem mais. Tudo mudou. Vou usar a frase que você termina sua publicação, para terminar este singelo comentário. "Aproveite cada momento de sua vida porque ele é único. Cada segundo que você vive constrói a pessoa que você é" Um grande abraço, minha querida amiga.
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