Confesso, prefiro as gostosuras. Mas esta semana estava no metrô e escutei uma conversa nem um pouco gostosa.
- Essa coisa de Halloween é coisa do demo. –
Dizia uma mulher.
- É sim fulana. Gente se vestindo de
caveira e fantasma...vão todos para o inferno. – A outra senhora se benzia.
- É uma festa que não é do Criador!
Fiquei rindo por dentro enquanto ouvia o
bate papo. Chega outubro é sempre a mesma história. Tem o povo que chama a festa
de coisa do demo, e tem o outro lado que tenta enfiar o Saci por decreto.
Quando dava aulas de inglês empreendi uma
pesquisa profunda sobre o tema, já que precisava convencer uma parte dos pais a
deixarem seus filhos participarem da festa, porque uma língua se aprende dentro
de seus elementos culturais.
Na pesquisa que fiz descobri que a festa
não poderia ser mais sagrada e voltada a caridade, pelo menos em suas origens.
O nome vem do inglês e significa a véspera do dia de todos os Sagrados (All Hallows Eve). Na data, os antigos Celtas esculpiam nabos para se
transformarem em lanternas, pois acreditavam que nesta momento seus entes queridos
voltariam para vê-los e as lanternas iluminariam o caminho. Era uma tradição de
um povo, toda a sua cultura e crença estava voltada para a natureza, para o
outro, para a vida em sociedade.
Os Celtas se foram pelas mãos dos romanos,
mas a data ficou e foi adotada pelo Cristianismo como dia dos mortos, o
finados.
Na época da idade média, no dia dos
mortos as famílias faziam muita comida e ofereciam para quem batesse em sua
porta, pedindo apenas que essa pessoa fizesse orações pelos seus mortos. Na
época a pobreza e a miséria era o normal na população. E assim, este costume
seguiu-se por muitos e muitos anos.
Esta pratica foi caindo em desuso, mas
ficou no imaginário do povo. Anos depois, lá pela década de 50 do século
passado, os americanos retomaram a prática, mas desta vez envolvendo as crianças.
A ideia era ensinar a caridade, a boa convivência e a importância da
comunidade.
Quando você fala de crianças é necessário
sempre trabalhar o imaginário delas, então surgiu a ideia da festa ser a
fantasia, usando de elementos que as crianças gostam e as ajuda a compreender o
mundo. Foi ai que entrou os doces que as famílias entregam para elas, lembrando
a prática da idade média.
As lanternas das portas que antes eram de
nabo, passaram a ser feitas com as gigantescas abóboras produzidas em solo
americano.
A ideia veio para o Brasil junto com as
escolas de inglês. A proposta não era aviltar a cultura brasileira, mas trazer
elementos da cultura inglesa para ajudar os alunos a compreender a língua e
aprender com mais facilidade. Não vou me estender neste ponto.
O dia do Saci, que foi criado em 2003 pelo
deputado Aldo Rebelo, foi uma reação
desproporcional a algo que não feria nossa cultura. O Saci é um personagem muito
divertido de nosso folclore que acabou sendo prensado em uma data que já tinha
festejos, já tinha um propósito.
Penso que vivemos em tempos obscuros,
momentos onde a falta das informações verdadeiras corroem os sentidos e as
percepções do que é real e do que é falso. Não se pesquisa, aceita-se o que vem
colocado em um post das redes sociais ou vídeos com falas dramáticas quase
sempre desprovidas da verdade.
É por isso que sempre vou querer as gostosuras, porque de travessuras do mal o mundo está lotado.
Um final de semana repleto de gostosuras, e
porque não dizer, leia um livro, um bom artigo de jornal. Se informe e seja
feliz.
Imagem: Esta ilustração fofíssima
eu peguei em uma pesquisa do Google. Infelizmente não tinha autoria. Se você
souber o autor desta imagem por favor me informe para que eu possa dar os
devidos créditos.
Lendo seu texto cheguei a conclusão que não sei nada sobre o Halloween. Via apenas, de passagem, como um costume do povo americano, sem me importar com o significado. Creio que este costume viajará i mundo, mas ainda assim, para nós, ele não tem, na minha opinião,o mesmo significado do povo americano. Um abraço. Luis
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