Retorno ao Sexta de Prosa com uma homenagem a uma amiga que faleceu recentemente. Um ser humano que fará muita falta entre nós, mas que agora segue sua trajetória rumo ao infinito.
Deise nos deixou muitos ensinamentos, muitos
momentos bons, muitos risos e reflexões, mas tem um momento em específico que a
meu ver foi extremamente marcante, pela sua profundidade de ser e do Ser.
Até o ano passado eu coordenava um Clube de
Leitura aqui no bairro onde moro. Éramos poucos, mas as conversas sempre
extrapolavam o tempo e o esperado.
Dá última vez que Deise pode participar do
Clube, o tema de nossa conversa era o conto Luar, do autor Guy de Maupassant. Para quem não conhece, Maupassant
foi um escritor francês que abordou temas como a loucura, o medo e a angústia e
que tinha uma habilidade impar em nos colocar dentro de suas estórias.
Em Luar, o autor nos apresenta um padre de
ideias rígidas, quase um fanático pelo entendimento que possuía sobre moral. De
repente ele se vê confrontado pela sobrinha em suas ideias morais, e ao sair de
sua residência, em uma noite de luar, ele se vê inserido em um encantamento que
o faz questionar sua rigidez e o leva a encontrar Deus nesse momento.
O texto é belíssimo. Maupassant tem uma
habilidade em descrever o luar e suas sutilizas que você acompanha visualmente
o conto.
No encontro que tivemos para falar do
conto, Deise estava tomada de tal encantamento pela estória que nos levou a uma
viagem não só com a releitura coletiva do conto, mas também através de suas
reflexões filosóficas que também nos inebriaram ao longo das duas horas em que
estivemos lá.
Lembro-me das expressões, dos comentários
que ela pintava como um quadro, tal artista que era das palavras. Confesso que
ao ler o conto pela primeira vez achei interessante, mas ao ouvir minha amiga
passei a ver nele aspectos e camadas que nunca imaginaria sozinha.
Isso me faz refletir sobre o poder que as
palavras exercem em cada um de nós, e o quanto a troca de ideias sobre a
literatura pode nos enriquecer a ponto de transformar completamente o ponto de
vista sobre um texto e consequentemente sobre a vida.
Minha amiga ficou encantada com a leitura e
isso trouxe algo muito bom para ela. O encantamento dela nos trouxe alegria e
muito conhecimento. Penso que compartilhar ideias sobre leitura nos traz a
mesma experiência do padre do conto. Abrimos as portas de nossa mente para um
“luar”, e quando o observamos e nos deleitamos ficamos com duas certezas:
O quanto somos privilegiados por ter a
literatura como companheira.
E o valor do conhecimento, que ao abrirmos
as portas de nossa vontade podemos nos encantar e melhorar como ser humano.
Finalizo minha homenagem a Deise com um
trecho do conto:
“Por que aquele desenrolar de encantos que
os homens não viam, uma vez que estavam deitados em suas camas? A quem se
destinava aquele espetáculo sublime, aquela abundância de poesia lançada do céu
sobre a terra?”
Que neste final de semana possamos sair de
nossas camas metafóricas e desbravar o novo.
Um lindo e encantador final de semana.
Foto: Wallpaper ERHAN DURMAZ
Soraya, gosto muito de Maupassant e adoro o luar.
ResponderExcluirComo pessoas apaixonadas a Lua me deixa sempre encantada. O texto é
realmente muito lindo. Que
sua amiga descanse em paz.
Cly.
sua amiga descanse
sua amiga descanse
sua amiga descanse em paz.