Quando estava na faculdade de Propaganda saía pelas ruas de São Paulo com minha Nikon FM para retratar curiosidades, uma sombra inusitada, um rabisco no muro, um prédio meio torto (Existiam muitos), tudo era motivo para transformar em arte. Eu fazia o que mais gostava como exercício do olhar, como uma forma de encontrar novas linguagens, novas formas de expressão.
Naquele tempo, usava um bom filme em
película, sempre preto e branco, e me encantava quando entrava no laboratório e
via a imagem aparecer no papel. Era pura magia.
Dentre pessoas, prédios, árvores, ruas
vazias que fotografei, tem uma foto que marcou, que até agora povoa minha
cabeça. Foi na simplicidade que encontrei a maior simbologia do que hoje, faz
parte das grandes discussões mundiais.
Era um domingo, a Avenida Paulista repleta
de pessoas passeando (Ainda não tinham fechado a rua) e lá no alto, presa no
concreto duro e robusto do prédio da FIESP pendia uma planta, solitária e
resistente. No meio do concreto, que naquele ponto deveria ter uma rachadura, a
planta fazia sua manifestação aérea. Nos convidava a refletir sobre a invasão
do cimento e o recuo do verde.
Quem levou a planta lá? O vento, o pássaro?
Não sei.
O fato é que ao pensar na postagem desta
semana, inspirada pela aproximação da COP30, lembrei-me desse momento.
Você sabia que a cada ano, a humanidade
pavimenta uma quantidade de solo do tamanho de uma Amazônia inteira?
- Ninguém fala sobre isso.
Fala-se sobre a queimada de florestas, o
arrancar das árvores, a poluição do ar – tudo emergente e muito importante, sem
dúvida – mas sobre a impermeabilização do planeta ninguém fala.
Fico imaginando o planetinha azul, esse
mesmo em que vivemos, que talvez um dia seja visto do espaço como um pálido
ponto cinza e não mais azul. Isso se a crosta terrestre aguentar tanto peso.
Há prédios inimagináveis como Burj
Khalif com 828 metros em Dubai (200 andares), o One Tower de
Camburiú com 290 metros, a Barragem de Três Gargantas com
2.335 metros de comprimento e 181 metros de altura, tão grande que pode ser
vista do espaço. E estou citando apenas três das gigantes.
Olho para minha cidade, a São Paulo que
sempre amei e percebo ainda mais essa verdade. O concreto cinza vai substituindo
o verde nos prédios em construção, nos rios que são canalizados, nos quintais
ladrilhados, nas casas que não tem jardim. O solo absorve cada vez menos a água
e vamos aumentando o peso que se exerce sobre ele.
Definitivamente o verde não consegue mais
nem pular o muro.
Chegou a hora de repensar as cidades, não
só na questão de árvores e plantas, mas no tipo de construção que estamos
fazendo.
A calçada precisa ser feita de forma a
escoar a água.
Os grandes condomínios devem dar lugar a
pequenos prédios cercados de verde por todos os lados.
Os rios e córregos precisam voltar a ter
contato com o ar, correrem livres.
As casas precisam de quintais, e caso não
haja espaço faça do corredor um jardim.
Quando o cidadão, as empresas e o governo
começarem a pensar assim, ai sim nós poderemos falar verdadeiramente em
sustentabilidade e contenção do clima.
Se o verde não conseguir romper o muro,
afundaremos. Será que nosso planeta é tão solido que aguenta nossos desvarios?
Saia neste final de semana, observe sua
cidade, busque a vida que pulsa e não o concreto que mata. Sinta que nós não
somos os donos do planeta, mas sim, somos a parte integrante do todo que
existe. Nem mais e nem menos importantes.
Um lindo final de semana!
Imagem: FREEPIK
- Freestockcenter

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