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Mostrando postagens de julho, 2023

Quem pode ler Umberto Eco?

          Era uma tarde ensolarada de outono, dessas que dá vontade de sair e olhar a natureza, sentir o calorzinho do sol na pele e, quem sabe, sentar em um café agradável e ler   um bom livro enquanto se degusta um expresso. Moro em um lugar que não me dá direito a estes luxos. Café ao ar livre só se pegar o carro. Para observar a natureza é preciso correr riscos e caminhar por um trecho da marginal Tiete para estar em um parque. O que resta é um Shopping, que estava aberto há pouco tempo e que, para o delírio de quem ama livros tinha uma livraria. Vamos falar a verdade leitores, felicidade é pouco quando entramos no paraíso, quando ouvimos os livros sussurrarem para que você olhe para eles, para que você os compreenda, os adote. Livraria é sempre uma fonte de prazer, mesmo naqueles dias em que você não tem um único centavo. Só de olhar as estantes, abrir, cheirar e colocar mentalmente na sua lista de desejos já é um grande prazer. Bem, era o...

Confissões de um Jovem Romancista

Aqui está um livro que eu gostaria de ter lido anos atrás, mas que só surgiu uma oportunidade agora. Estou feliz por ter feito isso neste momento. Feliz porque estou em um movimento de muito aprendizado em dois cursos incríveis, um deles sobre a construção do Romance  e o outro que é basicamente marketing, etapas de processo de produção, redes sociais etc. Mas, vamos ao assunto desta postagem que é Umberto Eco. O autor é um fenômeno, não só pela sua capacidade infinita de romancista, mas também porque ele vem da área acadêmica e escreveu seu primeiro romance somente nas proximidades dos 50 anos. O Nome da Rosa, auxiliado pela versão cinematográfica, foi um grande sucesso, e os leitores de forma inacreditável encararam trechos de discussões teológicas, que ultrapassam cinquenta páginas. Um fenômeno. Depois dele vieram muitos outros como O Pêndulo de Foucault, O Cemitério de Praga, Zero, Baudolino dentre outros, que rechearam os mundos de quem ama boa literatura. Para nosso...

O livro de bolso

          Era um bolso mágico, daqueles lugares que se pode tirar quase tudo. Um doce, uma tesourinha, uma ferramenta, uma fita, um lápis, uma carta, algum dinheiro, o pão fresquinho comprado na padaria, um bocadinho de amor. O bolso era como outro qualquer, pregado no vestido cor de terra que a mulher carregava por onde ia. Não era novo nem velho, era usado. Estava sempre limpo e meticulosamente passado. Ela gostava de usar nas ocasiões em que se sentia feliz. - Todos os dias. Sim, ela usava aquele vestido todos os dias. No bolso, que estava sempre cheio, a mulher trazia quase sempre um livro. Ela dizia: - Meu livro de bolso, não importava o tamanho que ele tinha. Dos livros brotavam as mais belas histórias, as mais românticas cenas, os lugares mais lindos e os mais apavorantes. Era o lugar mágico, que ela guardava no bolso do seu vestido. O livro de hoje trazia um jardim, com suas heras, flores, rosas, árvores variadas, pássaros. No meio tinha...

Quero conhecer você!

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Que ele se move, ele se move.

Última apresentação da noite. As luzes se acendem e focam no homem magro, de corpo esguio no alto da plataforma. Em trajes justos azul, vermelho e amarelo o homem segura uma haste longa. Ele não demonstra ter consciência de estar lá, no topo de um andaime “meia boca”. A música toca para anunciar o inicio da apresentação e a plateia se coloca em um silêncio amedrontador. O homem abre os olhos, parecem pequenos àquela distância, seu peito sobe e desce em uma respiração profunda e ritmada. Os pés se movem lentamente, como se rasgassem o ar. Tudo parece calculado e ao mesmo tempo não. Um passo a mais e o corpo todo estará suspenso por uma longa corda. A haste se move e a plateia nem respira. De repente a haste pende para a direita. Ohhh! sussurram as pessoas agoniadas. O equilibrista, como se tudo aquilo fosse normal, volta a caminhar, sem medo. Segue a corda e vai acertando a rota conforme o seu eixo pede. Os olhos que observam de baixo esperam pelo pior. Não há redes de proteção. Por...

Clube de Leitura da Casa da Fraternidade

                Querido Leitor e Leitora, Tenho falado constantemente sobre a importância da leitura na formação do cidadão pensante, o quanto o espaço de ler ajudar a formar empatia, a construir novos caminhos e outros benefícios que vão além do divertimento. Há um ano criei um Clube de Leitura com o objetivo de incentivar a leitura, o bate papo e a construção de um pensamento amplo e sem preconceitos. O Clube de Leitura da Casa da Fraternidade não é um clube engajado em um único tema porque queremos incentivar a diversidade em todos os seus sentidos. Digo isso porque há clubes focados apenas na leitura de livros escritos por mulheres, outros na literatura negra, outros na LGBTQIA+, etc. Esses clubes são incríveis e cumprem um papel muito importante e urgente na sociedade. O nosso Clube pretende trabalhar a diversidade dentro dos vários níveis de leitura, passando pela ficção de fantasia, a histórica, diários etc. No segundo semestr...

Os Filhos de Húrin

             O Senhor dos Anéis sempre começa com um prefácio que nos remete aos dias antigos, a histórias que são a base para que a escrita deste livro seja forte o suficiente para que acreditemos nela. Assim como outros livros que já comentei aqui, Os Filhos de Húrin é um conto, iniciado bem antes de Tolkien se dedicar ao Senhor dos Anéis e que conta uma trama repleta de ação, que mistura tragédia grega com mitologias que povoam o imaginário do povo britânico: dragões, lutas, profecias etc. Antes de me aprofundar mais neste livro gostaria de comentar que li uma crítica descabida, escrita no jornal The Guardian, que a meu ver beira ao reacionário e também ao preconceito elitista. Crítica literária é algo bem perigoso, porque uma parte dos críticos não conseguem separar o gosto pessoal, o excesso de academicismo de seus textos, e muitas vezes detonam com obras que são perfeitas e fora dos padrões. Ainda bem que o público, alheio a estas crít...

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