Sou uma apaixonada por cores, sempre fui. Os vários tons sempre marcaram momentos da minha vida. Lembro-me com carinho de uma viagem a Santos com meus pais, um amigo dele tinha emprestado o apartamento para passarmos alguns dias na praia, era um hábito antigamente. Na sala, entre tantos brinquedos, havia um carrinho pequeno e Pink que encheu meus olhos, como se eu pudesse comer aquele objeto. Não conseguia tirar o olhar dele, a cor era saborosa como se desse para sentir o sabor do Pink vibrante. Eu tinha sete anos na época e hoje fico pensando qual seria o sabor das cores.
Sou daquelas pessoas que quando entro em
uma papelaria, ou em um armarinho, esqueço o que fui fazer apenas olhando os
displays multicoloridos de canetinhas, papéis, novelos de lã ou de linhas. Sou
literalmente abduzida por esta variedade que desperta uma roda de sentimentos.
Em casa, se pudesse, cada parede seria de
uma cor diferente, mas sei que não devo, então a necessidade de uma
multiplicidade de cores se dá pelos lápis de cor, outra grande paixão. Já viu
aquela caixa de madeira de lápis de cor, com diversas gavetas que você abre e
tem, sei lá, umas 150 cores? Um sonho de enlouquecer qualquer um que goste de colorir.
Então, de repente, eu me deparo com algo
que parece uma aberração. Como assim eu só posso usar algumas cores no meu
visual? Onde está a liberdade de expressão? Onde estão os anos de luta para nos
desvincularmos de determinados conceitos sociais que são amarras para nosso
desenvolvimento?
Vou contar o porquê deste desabafo. Não faz
muito tempo, em uma rede social começou a aparecer propaganda sobre o uso de paleta
de cores. Os vídeos diziam mais ou menos isso “você só será bem sucedido na vida se usar as cores corretas de roupa,
sapato, maquiagem, terno, etc”. Você poderia me dizer que, a primeira vista
parece bem interessante esta abordagem, principalmente porque usar uma paleta
de cores específica, quase sempre, é um convite para um mergulho nas compras e
na renovação do guarda roupa. Mas será mesmo?
Deu um sentimento de angustia, de tristeza
e um pouco de revolta. Lutamos tanto para sermos livres e do nada começa uma
ditadura das cores. Porque o ser humano necessita tanto que alguém lhe diga o
que pensar, o que fazer, o que usar? Somos tão primários assim?
É claro que tenho consciência que há um dress code para tudo. Há uma lógica para
usar determinada roupa em determinado lugar, por exemplo, um biquíni na praia.
Mas será que precisamos mesmo usar a “cor x” ou a “cor y” para sermos bem
sucedidos?
Conversando com uma amiga, ela me indicou
um aplicativo e por curiosidade fiz o teste. Coloquei a minha foto e lá estava,
uma longa paleta de cores que eu deveria usar que ia dos tons de roxo, que eu
amo, aos tons de bege, que eu acho sem graça e sem criatividade. Para meu
espanto, nenhum azul.... como eu viveria sem o azul? Deletei o aplicativo.
Quando aluna de publicidade estudei psicologia
das cores e a influencia que ela tem sobre nós. É físico, cada cor pertence a
uma faixa de ondas e elas nos influenciam diretamente. Sei que tendemos a usar
cores frias quando estamos depressivos ou cores quentes quando estamos no auge
de nossas alegrias, mas precisamos lembrar que o ser humano é complexo e isso
acaba não sendo uma regra determinante.
O uso das cores no marketing é muito forte,
com certeza, é só você imaginar que o conjunto de amarelo e vermelho provoca
fome na pessoa, e isso nos remete ao logotipo do Mc Donald’s. Não é
coincidência, nesta área nada é ao acaso, tudo é estudado, e você aprende nos
cursos, nos livros na prática. Só para se ter uma pequena ideia do que se fala
delas:
Vermelho
estimula o corpo humano.
Amarelo
é
a cor do otimismo e da energia.
Laranja é
alegria, sociabilidade e animação.
Roxo
promove a criatividade.
Azul é
a calma, a tranquilidade e a serenidade.
Verde
alivia o stress.
Eu proponho que você escolha uma cor,
aquela que você nunca teve coragem de usar e vista de corpo e alma. Liberte-se
de amarras, mesmo que só possa fazer isso no seu tempo livre. Afinal, uma das
mais belas demonstrações da natureza é o arco-iris, multicolorido e, porque não
dizer, feliz.
As cores – todas elas - sempre me trouxeram
um sentimento de liberdade, de beleza pura sem apetrechos. Gosto delas
simplesmente por serem o que são: Cores.
Querido leitor, eu não tenho a intenção de
me aprofundar neste assunto. Seria extenso demais, técnico em excesso e não
seria provocativo.
Então, termino a postagem com um trecho de Flicts,
do Ziraldo.
“Mas existem mil bandeiras, trabalho
pra tanta cor. E Flicts correu o mundo a procura do seu lugar. E Flicts correu
o mundo…” E no fim, Flicts que era tão desprezada
descobriu que a Lua também era flicts.
Que você possa ser assim, porque no mundo
sempre existirá um lugar para você, tenha a cor que tiver ou ame a cor que bem entender.
Bom final de semana!
Você esta se superando a cada semana. Seus textos são magníficos e vocês os aborda com tanta sutileza, que sempre fica a sensação no final de "que pena, acabou". Realmente as cores representam momentos. Particularmente gosto do azul, mas não deixo de usar roupas de outras cores. Como você diz acima: Azul é a calma, a tranquilidade e a serenidade. E isso. Abraços,
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