O grande poeta Yeats, em suas mitologias, diz que “toda natureza está repleta de pessoas invisíveis”. Bem, o que ele tinha em mente na verdade eram seres das fábulas como elfos, gnomos, fadas, duendes etc. Criaturas criadas apenas em nossas mentes, ou “vista” por crianças e xamãs. No entanto, há outras criaturas invisíveis, aquelas com as quais nos deparamos todos os dias nas ruas, embaixo das pontes, os renegados por serem diferentes, os mortos, os asilados, dentre outros.
Vislumbramos
esses seres apenas por um vidro, como se pertencessem a um mundo que não
existe, que apenas acontece na magia e no mistério. São como livros que
fechamos após a leitura e esquecemos em uma estante qualquer.
O grande
romancista israelense Amós Oz, evoca em seu “De repente, nas profundezas do bosque” uma fábula repleta
de referencias a nós mesmos, aos outros, ao holocausto (mesmo não sendo a
intenção).
O livro é
profundo, de uma delicadeza na descrição dos personagens, no desenvolvimento da
trama que nos emociona, que nos envolve, que nos enleva e nos absorve.
Maia e Mati, os
protagonistas, conduzem de maneira cativante a trama. Os medos, as discussões,
a coragem e a falta dela os tornam tão verdadeiros como nossos filhos,
sobrinhos e netos.
Quando o livro
fala do desaparecimento total dos animais é quase um grito para que as pessoas
olhem para a natureza com outro olhar, que não maltratem animais e plantas. Ao
ver a aldeia que sobrevive sem os animais você compreende que o ser humano pode
muito bem viver sem os animais de abate, pode ser feliz e saudável comento
verduras, legumes e frutas.
Tem o personagem-mito
Nehi, que está oculto na maior parte da historia, que você compreende como mito
e descobre que não é. Ele tem vários significados na trama. Por um lado ele é a
pessoa desprezada pela sociedade apenas por ser diferente, por não compartilhar
gostos e atitudes, Por outro lado, Nehi é a vingança na mais cruel de suas
formas, aquela que não olha para o inocente, para aqueles que não fazem e não
desejam o mal, é a vingança que atinge a todos como uma massa. É um personagem
complexo, sem dúvida, assim como Mati e Maia também são.
De repente nas
profundezas do bosque também é um livro que fala do deboche, de pessoas que são
escolhidas alheatoriamente para serem os alvos dos outros, seres que sofrem
toda forma de deboche, preconceito, torturas psicológicas e físicas. Amós nos
faz pensar em seu povo, perseguidos ao longo de séculos .
O livro termina
com uma continuação (não que ela exista), mas ele acaba e nosso pensamento
continua seguindo, imaginando o que acontece depois, o que Maia e Mati farão depois
do que vivenciaram, como a comunidade receberá o relato dos dois. Será que ambos serão alvo de preconceito? Será
que haverá um adulto sequer com coragem de adentrar o bosque?
E então eu vejo
a outra metáfora, O Bosque.
Quais bosques
internos cada um de nós possui? Por que temos tanto medo de desbravá-lo?
Quantos demônios imaginários colocamos dentro destes bosques internos e quando
tomamos coragem para enfrentá-los descobrimos que são apenas crianças
precisando serem ouvidas ou então acarinhadas.
Realmente é um livro
que nos faz pensar e refletir sobre nós mesmos e sobre nossa relação com o
mundo.
Em seu livro de
memórias Amós Oz diz que sua mãe Fania o influenciou muito em sua escrita,
quando contava estranhos contos de fadas em sua cozinha em Jerusalém. Os contos
eram velados, pareciam não ter começar no inicio e terminar no fim. É o que
sentimos ao ler De repetente nas
profundezas do Bosque.
Não é uma
história para se ler uma única vez. Você tem vontade de começar de novo ao
terminar, porque fica a sensação de que perdeu algo, de que deixou passar
alguma coisa despercebida. E no final da segunda leitura descobre que, a única
coisa despercebida é você mesmo, porque a leitura trabalha o seu subconsciente,
o seu inconsciente coletivo tão falado por Freud.
Se valeu a pena
ler, nossa muito mesmo. Eu recomento a leitura como algo que vai te tornar
alguém melhor, depois de passar por uma autoanalise.
Se você já leu,
me conta, se não...bem, corre para a livraria e comece agora mesmo.
Autor: Amós Oz
Tradutor: Tova Sender
Ano
de lançamento:
2007
Editora: Companhia das
Letras
Gênero: Romance Israelense
Páginas: 144
O que mais me encanta nos seus textos e a habilidade que você coloca neles para despertar o interesse do leitor num livro que talvez nunca tivesse pensado em ler. Seus textos são mágicos, pois eles fazem exatamente isso. Parabéns
ResponderExcluir