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As mãos e o cérebro

Outro dia vi um vídeo do Drauzio Varela falando da importância dos trabalhos manuais, das pessoas terem hobbies. Que usar as mãos para fazer algo como bordar, pintar, desenhar, construir peças de madeira, costurar etc., liberam neurotransmissores no nosso cérebro que nos dão prazer e também nos previnem de doenças.

Na minha família sempre tivemos esse hábito. Minha mãe costurava, muito bem por sinal. Com os anos ela fez curso de pintura em tecido, bordava ponto cruz, fazia patchwork, ou seja, dentro do número limitado de horas que ela tinha sobrando sempre arranjava um tempinho para fazer algo diferente. Ela tinha uma cabeça muito boa e uma memória incrível.

Acho que herdei dela essa vontade de usar as mãos para fazer algo. Já pintei telas, tecidos, painéis, bordei ponto cruz, fiz tricô e crochê, mas confesso que minha grande paixão sempre foi o desenho e o colorir (Além da escrita, claro).

A escrita a mão também é uma atividade manual. Quando você escreve um diário, uma carta ou copia em um caderno uma poesia, um trecho de livro que você gosta, seu cérebro estará trabalhando de uma forma bem diferente daquela em que você se posta diante de uma tela de celular ou computador.

Ao longo dos anos descobri também que a escrita quando trava precisa de um gatilho para se soltar, e que a arte é um grande “solvente” desta parede que se ergue. Clarice Lispector recorreu à arte quando não conseguia escrever. Pintou 22 quadros que também revelaram nela um grande talento para a pintura. Tenho feito uso deste recurso.

Na literatura não é diferente. Em quantos clássicos as personagens faziam uso das artes manuais em suas horas de lazer? Em Jane Austin quase todas as personagens mantinham seus bordados e suas costuras. Não eram boas em artes porque os pais não as enviaram para aprender pintura e desenho. E, em quantos livros os personagens pintavam, escreviam diários, tocavam piano,  faziam jardinagem, arranjos florais ou geleias para estocar. Perdi as contas, por isso nem vou enumerar aqui.

Enquanto caminho, observo que o mundo está repleto de estímulos para que nossa mente viaje na escrita ou na pintura, mas que as pessoas estão “dopadas” por suas telas.


Ouvir os pássaros, o barulho dos pés quando tocam o solo, das folhas balançando nas árvores são estimulantes intelectuais e relaxantes. No entanto, o que observo são pessoas focadas no que seus fones de ouvido estão transmitindo, enquanto o entorno está tentando dialogar com elas, de certa forma gritando para ser percebido.

O ruído na comunicação está fazendo mal a humanidade. Estamos fascinados por um mundo digital e deixando de viver o real, de observar, de nos deixar levar pelo fluxo da vida na natureza.

Creio que a grande proposta é a que se foca na observação fora das telas, na ação das mãos em algo concreto, criativo.

Que tal colocar literalmente as mãos na massa e fazer um pão? Os então pegar os lápis de cor esquecidos e tentar colorir algo? Se for caminhar, desligue-se do virtual, ouça a natureza. A leitura também está ligada em tudo isso, nesse foco concentrado em você mesmo.

Um ótimo final de semana repleto de trabalhos manuais.

Dia #6

Fotos: Soraya Felix

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