Autores:
Malala Yousafzai e Christina Lamb
Tradutor: Vários
Tradutores
Editora:
Companhia das Letras
Ano
de Lançamento: 2013
Número
de páginas: 360
Avaliação
do Prosa Mágica: 10
- Quantas Malalas existem no mundo?
Talvez muitas, talvez duas ou três. O fato é que apenas uma delas fez a
diferença.
Escrever esta resenha é como se fosse
um prêmio para mim. Falar de Malala Yousafzai é contemplar todas as heroínas da
ficção que conhecemos em apenas uma única personagem da realidade.
O livro é uma biografia, mas parece
ficção. Malala é a personagem de uma trama que o próprio Planeta em que vivemos
se encarregou de escrever.
Confesso não ser fã de biografias, mas
tenho consciência da importância do papel que elas exercem em nosso mundo, no
entanto “Eu sou Malala” é diferente.
Ela foi escrita para contar uma “boa”
história, para que o mundo conhecesse um pouco da vida desta garota, que se
levantou para contestar a absurda ordem do Talibã em fechar as escolas para
meninas. “Eu Sou Malala” em nenhum momento parece ter sido escrita como uma
exaltação e autoelogio.
Malala e a jornalista Christina Lamb
escreveram a trajetória desta garota como se fosse um bom romance, incluindo as
dúvidas e incertezas de uma menina que se torna uma adolescente, em um pais
onde as mulheres não tem vez. Tanto é que Malala pede a Ala todas as noites que
a faça crescer, pois Malala tem apenas um metro e cinquenta centímetros de altura.
Por mais ironia que possa parecer, Ala não a esticou em altura física, mas a
tornou tão grande que hoje ela pode abraçar o mundo e fazer diferença.
Percebe-se que há muito do pai dela na
história, mas Malala e o pai são praticamente uma ideia só, pois ambos são
visionários. Em uma terra onde reina certa “ignorância” em relação à mulher, o
pai de Malala, assim como alguns amigos dele que aparecem ao longo da história,
são um Oasis que sinalizam a possibilidade de mudanças.
Malala é filha de uma família mulçumana.
Uma família que busca conhecer, estudar e analisar a crença que segue, e isso
faz diferença. É isso que possibilitou a existência de Malala. Em outra
família, talvez ela tivesse sido morta pelos próprios parentes.
Há pontos imperdíveis na leitura. Já
no Prólogo, quando ela descreve sua casa em Birmingham, na Inglaterra, você se
encanta com a clareza de visão e ao mesmo tempo o lado adolescente dela.
“(...) Meu país fica séculos atrás
deste em que estou agora. (...) Há água corrente em todas as torneiras – quente
ou fria, como você preferir. -; luz a um toque do interruptor, dia e noite, sem
necessidade de lamparinas a óleo...”
O parágrafo segue descrevendo algo,
que para nós que vivemos em grandes cidades é tão comum, que acaba se tornando
irrelevante, mas que para ela, que vivia em um lugar em que nada disso era
acessível a população, acaba sendo algo digno de nota em um livro biográfico. É
curioso e ao mesmo tempo uma lição de vida para todos nós.
Outro fato interessante é quando ela descreve
a competição que havia entre ela, Moniba e outra aluna na escola. Quem era a
melhor? Quem tirava as melhores notas ao longo do ano? Coisas de uma adolescência
comum.
Falando assim, até parece que o livro
é uma sucessão de fatos sem importância – mas não é.
Malala na ONU usando o chale que era de Benazir Bhuto |
Malala nos apresenta um Paquistão diferente
daquele que vemos na mídia. Um Paquistão que é feito de pessoas, que possuem um
cotidiano. Um país que possui belezas e também todos os defeitos que uma nação
pobre e fraca pode ter. Nas devidas proporções, o Brasil é exatamente igual, e
por isso mesmo fiquei me perguntando o que aconteceria aqui se um grupo de
fanáticos começasse a fazer sua propagando ideológica por nossas periferias. A
resposta é assustadora.
O Paquistão que Malala nos apresenta é
idiossincrático. É uma terra de belezas estonteantes e políticos corruptos. É
um país no qual a população interpreta o Corão de forma errada e isso tira a
liberdade da mulher. É um país tão pobre e analfabeto, que um grupo de radicais
como o Talibã conseguiu arrancar dinheiro da população, conseguiu “virar a
cabeça” de forma que parte do povo acreditasse em seus vaticínios. Há inclusive
uma passagem em que parte do povo acredita que o grande terremoto ocorrido lá
foi obra dos Estados Unidos.
- Alguém me disse que o pior fanatismo
é o religioso, mas o tempo me fez compreender que não é a religião que
proporciona os desmandos, mas a sede de poder dos homens, por um lado, e pelo
outro a ignorância de quem os segue.
A mensagem de Mala é clara, enos serve
de reflexão, de alerta para sairmos de nossa zona de conforto e façamos algo de
bom, algo que mude realmente o mundo.
Um livro, uma caneta, um lápis, um
giz... quais armas poderiam ser melhores para mudar o mundo? Tanto é que os
políticos tem medo de dar educação de verdade ao povo, por que certamente
pessoas esclarecidas não poderão ser manipuladas.
O que eu posso dizer é que não dá para
ler “Eu Sou Malala” e sair da leitura a mesma pessoa. A história é marcante.
Ela é marcante.
Nasci em uma família que prezava os estudos
acima de qualquer coisa. Eu e meu irmão fomos estimulados a estudar, apesar de
minha mãe só ter sido autorizada a estudar até a quarta série e meu pai pouco
mais que isso. Mesmo assim fomos incentivados a ler e buscar conhecer o mundo. Isso
fez a diferença em minha vida, educação é tudo o que de melhor uma pessoa pode
receber. No entanto, o que vejo aqui no Brasil hoje não é muito diferente do
que Malala viu no dela.
Infelizmente aqui, a educação é vista
como algo quase supérfluo para uma parte significativa da população. Em muitos
lugares as crianças não tem acesso a escola e quando tem, o ensino é dado de
forma ideológica. É ensinado o que pensar, e não “pensar”.
Mas... vamos voltar ao nosso livro.
Se esta biografia estimular pelos
menos, meia dúzia de pessoas chaves, talvez ele possa proporcionar muito mais
mudanças que a própria autora possa ter imaginado.
Malala lia ficção, como Alquimista de
Paulo Coelho, série Crepúsculo dentre outras. Talvez por isso a força textual
de suas palavras nos embriague na leitura. É o poder do escritor em ordem
inversa: Transformar em ficção aquilo que é real.
Eu me apaixonei pelo livro, me
encantei com a força desta grande personagem real e tenho certeza, que farei
releitura.
Obrigada pela resenha, muito boa!
ResponderExcluirVou procurar o livro, amo biografias, o exemplo de outros que lutam, nos fazem crescer também!!
Cris
Excelente resenha! Sou fã da Malala e quero logo ler este livro.
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