Hoje é o Dia Internacional da Mulher, data histórica que reverencia a luta pela igualdade de direitos e a liberdade de ser, “quem quiser, usar o que quiser e pensar o que desejar”, ou seja, uma luta pelo que é básico para o ser humano mas foi negado as mulheres durante séculos.
A ONU oficializou esta data em 1975, tendo
como base uma tragédia ocorrida com trabalhadoras de uma fábrica nos Estados
Unidos que pediam melhores condições de trabalho e foram queimadas vivas.
O assunto sobre a luta pelos direitos é intenso
e extenso, mas não darei tanta ênfase a isso nesta postagem. Aqui, a inspiração
será o título de uma reportagem da Folha de S. Paulo “Lugar de mulher é na livraria”. O objetivo desta postagem é falar
sobre a representatividade da mulher no espaço literário.
Como seres humanos, dotadas de livre
arbítrio somos autoras, atrizes e portadoras da cultura, e com ela exercemos
não só diversos papéis, mas influências de todas as dimensões nos diferentes
espaços do ser.
No campo das letras, da literatura, a
mulher precisou abrir seu caminho a machadas (assim como em outras conquistas).
Foi uma árdua luta para que uma escritora pudesse assinar seu nome em uma
publicação, ser aceita na Academia Brasileira de Letras ou ter seu livro
publicado por uma editora de peso.
Apenas em 1932, a escritora Nísia Floresta
Brasileira Augusta conseguiu publicar seus textos em um jornal assinando seu
próprio nome. Até então, as mulheres precisavam se esconder atrás pseudônimos
masculinos.
Este fato já ocorria em séculos anteriores
fora do Brasil, e Emily Brontë, autora de “O Morro dos Ventos Uivantes” (1847)
só pôde publicar seu livro sob o pseudônimo de Ellis Bell. Como se não bastasse
estes fatos do passado, a escritora J.K.Rowling, autora de “Harry Potter”(1996)
foi obrigada a omitir seu primeiro nome porque a editora acreditava que o público
aceitaria melhor aquele livro se ela fosse homem. Que absurdo!
E então, vamos para a nossa tão aclamada
Academia Brasileira de Letras. Imagine só, até o ano de 1977 ela não aceitava
mulher! Isso mesmo, nenhuma mulher desde a sua fundação. E por mais estranho
que possa parecer, uma mulher, Julia Lopes de Almeira, também foi a responsável
pela criação da ABL, no entanto ela nunca pode ocupar uma cadeira na
respeitável instituição.
O primeiro membro feminino da academia foi
Raquel de Queiroz, e de lá para cá somente oito mulheres foram aceitas: Lygia
Fagundes Telles, Nélida Piñon, Dinah Silveira de Queiroz, Zélia Gattai, Ana
Maria Machado, Cleonice Berardinelli, Rosiska Darcy de Oliveira e Fernanda
Montenegro. Um número muito pequeno pela quantidade de talentos femininos
brasileiros.
Somos a maior parte de leitoras no país. Segundo
pesquisa Retratos da Literatura-5º Edição
(2019), 54% dos leitores no Brasil são as mulheres. Ou seja, mais da metade
da população que compra, que empresta, que vai as bibliotecas é composta de
mulheres.
Na contramão disso, apenas 30% dos livros
publicados pelas grandes editoras são de mulheres. Estes dados foram obtidos em
uma pesquisa referente ao intervalo entre 1965 e 2014 (Dados Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, um
coletivo de pesquisadores vinculado à Universidade de Brasília). A
diferença nos dias de hoje não deve ser tão grande em relação a estas informações.
Só pelos dados estatísticos já dá para
perceber a nítida desvantagem feminina. É certo que hoje já temos muito mais
títulos de mulheres, livrarias especializadas em escritoras, mas ainda precisamos
melhorar.
A mudança, a ocupação dos espaços do Ser
devem se dar, única e exclusivamente, pela mulher. Tudo isso acontecerá através
de mudanças simples nos atos e atitudes.
Estimular a menina a ler sobre as mulheres, a escrever mais, a não ter medo de protagonizar sua vida de forma espontânea, a ter liberdade, a compreender que podemos e devemos ocupar o lugar que desejarmos na sociedade. Tudo isso é uma forma de colocar por terra o machismo ultrapassado.
Então, quando eu digo que o lugar da mulher
é na livraria, significa que ela deve escrever mais, ter a coragem de mostrar o
que pensa, expor seus sonhos, compartilhar parte deles através das histórias
que criam. Sim, isso mesmo, compartilhar, porque todo autor/autora sabe que
criar uma história é arrancar pedaços de você mesmo e colocar em palavras, que
serão lidas por outras pessoas. O autor pessoa se expõe através de suas
histórias.
Lugar de mulher é na livraria sim, porque
elas devem ser destacadas, lidas, comentadas em clubes de leitura. Não falo
aqui de nenhum Clube da Luluzinha, mesmo porque a leitura deve abranger tudo e
todos. O que eu quero destacar é a necessidade de ler cada vez mais títulos de
autoras mulheres, para que o mercado editorial passe a editar mais livros
delas.
A mulher precisa prestigiar outras mulheres
para que editores, livreiros compreendam que precisam, que tem uma obrigação
moral de publicar autoras, especialmente as nacionais.
Percebo que isso já tem ocorrido em países
de língua inglesa. Lá, a quantidade de autoras que são best-sellers é bem
grande. Creio que eles já compreenderam que o mundo mudou e já não se pode mais
negar o importante papel da mulher na sociedade.
Que esta data de hoje não tenha apenas o
objetivo de distribuir rosas, mas que também seja um marco para compartilhar
espaços e dividir trajetórias. Um espaço de compreensão que a batalha da mulher
é geral, mas que alguns seguimentos ainda precisam de mais apoio como as
mulheres pretas. Ser mulher já é difícil em uma sociedade machista, imagine só
o que é sofrer preconceito em duas frentes?
Então, que nossa união nesta luta não seja
aquela ultrapassada, de bandeiras e passeatas, ou de discursos inflamados e
repetitivos que não levam a nada, mas que brote de status fundante e não de solo
criado.
É possível sim acabar com o machismo
arraigado, mas este papel precisa ser exercido dentro de casa, na forma como as
mães criam seus filhos. Cabe à família ensinar que todo o ser humano,
independentemente de gênero, raça, escolha sexual ou religião tem o direito de ser,
de exercer papeis escolhidos por eles próprios e não pelos preconceitos da
sociedade.
Assim, se você deseja ser escritora, lute,
vá atrás, prestigie suas colegas de escrita. E a todas as outras mulheres que
dão sentido a existência do Ser Escritor, que leiam, que mergulhem na
literatura, porque o livro é a única forma de se libertar, de mudar o olhar, de
compreender o mundo através dos olhos dos outros.
Então, a todas nós mulheres, um feliz todos os dias. Lembrando sempre que, a cada passo a mais que você der, estará mais perto de uma vitória.
Alguns links de bons textos para ler sobre as mulheres escritoras:
Revista Cláudia – 160 anos de Júlia Lopesde Almeida
Crédito
de Imagens:
Imagem
1
de Julia Lopes de Almeida - Vermelho Marinho/Divulgação
Imagem
2
de 20 escritoras brasileiras – Site Mundo K.
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