O avô, um adolescente e um mercador de sonhos

Parece história de filme, mas não é. Tem todos os elementos para compor um bom enredo: duas pessoas que vivem em cidades distantes se conhecem pela internet e mantém uma amizade que perdura por anos, mesmo que eles tenham se encontrado uma única vez.

Vida de blogueira tem alguns fatos que dariam um livro, confesso que começo a pensar na ideia de escrever sobre o assunto, mas vamos ao enredo do parágrafo acima.

Anos atrás (10/08/2010) li uma matéria na Folha de S. Paulo que contava a história de um adolescente que a partir de um castigo literário (o pai exigiu que ele lesse 10 livros por conta de uma nota baixa na escola) se tornou não só um leitor apaixonado por livros, mas um adolescente que conseguia ler 300 páginas em apenas uma hora.

Claro que o assunto interessou demais, e sem ter como me comunicar com o adolescente publique uma postagem comentando a matéria da Folha. (link)

Tempos depois, não muito, o avô do adolescente entrou em contato comigo elogiando o fato de ter publicado a postagem. E, a partir daí nasceu uma amizade que durou 15 anos.

O adolescente cresceu, passou a ler mais rápido ainda, criou um método de leitura e ensina as pessoas a fazerem isso. Hoje, o adolescente adulto colhe os frutos de um “castigo” e do incentivo do avô.

O avô eu conheci bem. Luis Antonio Gonçalves era alguém com quem eu falava quase diariamente. Um senhor aposentado, vindo de um trabalho que o apresentou aos diversos recantos do país, lugares que acrescentaram cultura e conhecimento na vida dele.

A leitura era algo que fazia parte de Luis Antonio. Da última vez em que me falou sobre seus livros, eles somavam uma quantia de mais de 1000 exemplares, que ele leu e com certeza indicava para quem o encontrasse.

Luis era um escritor de mão cheia. Além das postagens dos blogs que manteve ao longo desses anos, ele escreveu dois livros: “Os caminhos de um mercador de sonhos” e “Riacho Doce”, ambos disponíveis na plataforma do Clube de Autores.

Livros sensíveis, sem dúvida, que falam do humano, que nos mostram uma visão do mundo privilegiada que eleva o passado mais privilegia o presente. Luis nos contava causos de forma tão fluida como quando dizemos “bom dia”, “tudo bem?”, e outras conversas que nos são corriqueiras mas importantes.

Tive o privilégio de participar do processo de edição de ambos os volumes. Como leitora crítica e como amiga. Foram tempos divertidos e construtivos. Vai e vem de arquivos com anotações, algumas lives divertidas, opiniões convergentes e divergentes e sempre o tópico: - o que fazer com a capa?

Vi Luis Antonio uma única vez, registrada na foto desta postagem. Foi um encontro memorável, que guardo em meu coração até os dias de hoje. Ele tinha uma conversa divertida, envolvente, inteligente. Era um senhor que nos ensinava muito sobre cultura e sobre como enfrentar os percalços da vida. Além de valorizar sua família de uma forma que emocionava.

Luis Antonio se foi para o outro Plano. Vai deixar saudades em nossas trocas de mensagens, em seus comentários aqui no blog e também na força que sempre me deu nos momentos difíceis. Faz parte daquelas pessoas que deixam um buraco no mundo quando partem para outra vida.

Foi embora com muitas estórias e histórias para acabar, mas deixa suas marcas neste mundo através de seus livros e da convivência que teve com os amigos, e principalmente com a família.

Na minha história de vida vai deixar o calor de uma grande amizade que sobreviveu a distância, como em um bom livro ou filme.

 

E vocês, meus queridos leitores, não deixem nunca de aproveitar cada segundo ao lado das pessoas que querem bem. A vida é curta e as amizades são eternas.

        Um lindo final de semana.

Arte digital criada pelo Luis Antonio Gonçalves. Um presente que recebi já faz alguns anos.